'Poder público deveria ter projetos de apoio a espaços culturais', diz músico

Há 31 anos, Antonio Nóbrega trocou Recife por São Paulo para viver integralmente de sua arte. Dançou, cantou, tocou e, em 1992, fundou o Instituto Brincante, espaço dedicado à promoção da cultura popular.

Localizado na Vila Madalena, zona oeste, o imóvel, alugado, foi vendido a uma incorporadora, e o Brincante corre o risco de despejo.

Apesar dos contratempos, ele diz que ama a cidade. Mas não passa um verão sequer aqui. "As praias pernambucanas me encantam ao ponto de eu desconhecer o litoral paulista", conta. "É uma falha."

Em 4/12, Nóbrega estará no cinema com "Brincante", longa do diretor Walter Carvalho que narra a trajetória do artista, mesclando documentário e ficção.

sãopaulo - Você recebeu o título de cidadão paulistano em 2008. Considera-se um?
Antonio Nóbrega - Me vejo daqui a pouco mais paulistano do que pernambucano. Aqui consolidei meu trabalho e construí minhas casas, a pessoal e a que abriga meu projeto artístico.

Por que veio a São Paulo?
Senti necessidade de expandir o meu trabalho e quis buscar outras possibilidades. Há três décadas, Recife não oferecia muitas condições para se viver integralmente de arte. E os destinos de migração sempre são o Rio ou São Paulo. Vim para cá porque me acho mais paulistano do que carioca.

Muito do filme se passa em áreas conhecidas da capital. Quem as escolheu, você ou o Walter Carvalho?
Ele arregaçou mais as mangas para visitar os locais onde realizamos o filme. De certa forma, é uma homenagem a São Paulo. A cidade é flagrada em diversos momentos pelo Walter.

Como está a situação da sede do Brincante?
Teremos a última audiência em dezembro. Saberemos se ficaremos no imóvel ou se teremos de procurar outro local. Persevero a ideia de que o Brincante deve continuar onde está ou na região. Ele já faz parte da Vila Madalena, bairro que tem uma característica especial, fica num lugar bonito e em uma rua que tem um nome muito significativo: Purpurina.

Outros grupos culturais também correm o risco de perder sua sede, como o Espaço dos Satyros, na praça Roosevelt. Como mudar essa situação?
O poder público deveria ter projetos de apoio a esses locais [culturais], que são poucos em relação às necessidades da capital paulista. Fora do país, já existem alguns modelos que nos revelam alternativas, como pequenas doações financeiras para os centros culturais.

Ezyê Moleda/Folhapress
Antonio Nóbrega (foto) estará no cinema com "Brincante", longa do diretor Walter Carvalho
Antonio Nóbrega (foto) estará no cinema com "Brincante", longa do diretor Walter Carvalho
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