Site reúne interessados em hospedar cães de terceiros em suas residências

A primeira meia hora foi a quadrilha de cheira lá, lambe cá. O Getúlio adorou o Téo, que curtiu o Gepeto, que foi puro desdém.

E enquanto os três cachorros se cafungavam, suas donas aproveitavam para se conhecer melhor e falar sobre as manias e rotinas dos entes caninos.

A matilha passou o feriado prolongado da Consciência Negra no apartamento de Ana Karla Carvalho, 29, tutora do shih tzu Gepeto, de dois anos (o Getúlio, que pertence à sogra, estava só de passagem).

A engenheira é uma das anfitriãs registradas no site DogHero, plataforma recém-lançada de hospedagem doméstica de animais de estimação -espécie de versão para cães do Airbnb, onde alugam-se moradias para temporadas.

"Ele não gosta muito de colo", "Ele acabou de passar por uma cirurgia", "Ele adora água, se o pote for grande e estiver cheio, ele vai mergulhar que nem piscina", informava Letícia Yasuda, 31, "mãe" do spitz alemão Téo, de dez meses.

Prestes a viajar para a praia, a biomédica encontrou o serviço na internet. "Achei mais interessante que um hotelzinho porque é mais pessoal. Não que eu esteja 100% tranquila, mas sabia que ele ia socializar bem e é legal deixar com gente que gosta de bicho", disse.

Segundo os idealizadores e sócios Eduardo Baer, 30, e Fernando Gadotti, 29, a proposta é criar uma rede de pessoas interessadas em cuidar temporariamente de animais de terceiros, recebendo-os em suas casas.

"Temos todo tipo de gente, que tem cães ou que adorariam ter -só que por algum motivo não podem, mas gostam da companhia. Buscamos quem queira receber [os pets] muito mais por prazer do que pela parte financeira", explica Baer.

Os dois dizem que o processo de inscrição e aprovação de novos membros (atualmente por volta de cem na capital paulista) é feito com cautela: começa com o cadastramento no site (www.doghero.com.br) e envolve entrevista, checagem de antecedentes criminais e consulta aos perfis virtuais dos interessados. Também é realizada uma pesquisa sobre o contratante, para evitar abandonos.

"Caso o animal precise ir ao veterinário, temos uma política de reembolso. Também, durante a estadia, quem recebe se compromete a informar a situação do animal inquilino, enviando fotos e vídeos para o dono", complementa Gadotti. Ao final do período combinado, o contratante é convidado a avaliar o contratado. Só quando tudo termina é que o valor das diárias é depositado na conta do hospedeiro.

Não há restrição quanto ao preço cobrado pelos dias de casinha, chamego e passeada. A média, de acordo com os fundadores, fica entre R$ 40 e R$ 50 por dia -o feriadão do Téo saiu por R$ 60 cada 24 horas. A logística de entrega é combinada entre as partes. A comida, os brinquedos e outros itens relacionados à rotina do animal devem ser levados pelo dono.

Para Mário Marcondes, 38, diretor clínico do hospital veterinário Sena Madureira, esse tipo de hospedagem deve ser escolhido com cautela.

"O animal pode ficar estressado, mas o mais importante é a confiança na pessoa com quem vai deixar. O ideal é escolher um hotel com o qual o cão está acostumado, porque ele já sabe que o dono vai voltar para buscá-lo, além de contar com estrutura", diz.

Era a primeira vez que Ana Karla hospedava um animal desconhecido. "Eu sou que nem a Felícia [personagem do desenho animado "Tiny Toons" que adora abraçar animais]", dizia para Letícia.

"E eu que tenho gato?", você pergunta. "O foco principal é a hospedagem de cachorro, mas não discriminamos. Muita gente tem gato e cachorro em casa", diz Baer. E iguanas? "Se tiver alguém interessado em receber uma iguana, por que não? [Risos]."

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