Atriz de 'O Som ao Redor' é ex-diva do brega em novo filme; leia a entrevista

O universo da música brega, gênero bastante popular no Nordeste do país, serve de pano de fundo para o drama "Amor, Plástico e Barulho", primeiro longa-metragem dirigido pela pernambucana Renata Pinheiro.

A obra, que estreou na última quinta-feira (22), é centrada em duas mulheres, Shelly (Nash Laila), uma jovem dançarina que quer ser famosa a todo custo, e Jaqueline (Maeve Jinkings), veterana cantora que amarga o declínio de sua carreira. Inseridas em um nicho de pura decadência, elas descobrem que tudo é descartável, como o sucesso e o amor.

Nascida em Brasília, criada em Belém e que hoje em dia se reveza entre Recife e São Paulo, Maeve, 38, conhecida por seu trabalho em "O Som ao Redor" (2012), dá vida à protagonista do filme, uma ex-diva do brega. À sãopaulo, a atriz conta que foi difícil treinar a voz para cantar como as cantoras desse gênero.

"A indústria do brega tem uma pulsação erótica muito forte. Elas cantam sussurrando, quase como se estivessem gozando", diz.

Abaixo, leia na íntegra a entrevista com a atriz.

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revista sãopaulo - Sua personagem é uma cantora. A voz nas músicas que ela interpreta é sua? Como foi a experiência?
Maeve Jinkings - É minha mesmo. Eu só tinha feito aula de canto durante a faculdade [ela se formou na Escola de Arte Dramática da USP] e na preparação para o papel. Mas quando canto na vida ou mesmo quando cantava nas minhas aulas, era de uma forma muito diferente da que as cantoras de brega cantam. Foi bem assustador. O mais difícil, na verdade, foi encontrar esse registro da sexualidade que se reflete na voz, na maneira como elas cantam. A indústria do brega tem uma pulsação erótica muito forte. Nunca pensei que fosse dizer isso, achei que eu fosse uma pessoa super aberta, mas foi difícil colocar esse erotismo na voz. Elas cantam sussurando, quase como se estivessem gozando.

Você se inspirou em alguma cantora conhecida?
Quando a Renata me chamou para fazer o filme, eu pensei "que maravilhoso, vou reencontrar a cena do brega que cresci vendo em Belém e que adoro, que é de alguma forma próxima a mim". No entanto, no momento em que comecei a ensaiar e fazer pesquisas para a personagem, me dei conta de que esse brega que a gente fala no filme é outra coisa. É um brega com influências muito forte de funk, dos MCs, de hip-hop e até um pouco do axé. É um brega completamente diferente do que o que eu tinha na memória e cresci escutando, que era um som mais romântico. O brega da cena moderna é mais agressivo. Então, minha pesquisa começou no reconhecimento do brega de hoje.

Depois passei a frequentar os bailes de Recife, aqueles que você chega às 21h e sai às 5h. Assim conheci as cantoras daqui, que são as estrelas de uma indústria que movimenta uma quantidade enorme de dinheiro, que eu também não podia imaginar. Fui visitar essas grandes estrelas, mas procurei também as bandas menores, mais pobres, que têm uma estrutura mais precária, parecidas com a que retratamos no filme. Fui bebendo de tudo, de lugares de muito glamour e de muita decadência.

"Amor, Plástico e Barulho", assim como "O Som ao Redor", faz algumas críticas sociais. Existe algo de similar entre os dois filmes?
Acho que são obras diferentes, mas como outras tantas produções pernambucanas, elas dialogam em alguns pontos, como, por exemplo, trazer Recife como personagem fundamental, quase como um protagonista da história.

Quais são seus próximos projetos?
Tenho alguns filmes na lista para estrear: o "Valeu Boi!, do Gabriel Mascaro ("Ventos de Agosto"), o "Açúcar", segundo trabalho que fiz com a Renata Pinheiro, e o "Big Jato", do Cláudio Assis ("A Febre do Rato"), no qual fui preparadora de elenco. Daqui a pouco vou filmar um longa em Belém com a diretora paraense Jorane Castro. É um road movie que tem o título provisório de "Amores e Líquidos". Existem outras coisas também que ainda são namoros, não estão fechadas, então prefiro não falar ainda.

Informe-se sobre o filme

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