Caipira e urbano unidos pela canção no show de Breno Ruiz e Renato Braz

Com elementos rítmicos de serestas e da música caipira, Breno Ruiz, 32, resgata —ao piano e a partir de um duo de voz com Renato Braz— o gênero canção, que busca evocar um sentimento pátrio, retratar um povo e sentimento universais, na Casa de Francisca, na quinta (29).

Em suas composições, grande parte delas em parceria com Paulo César Pinheiro, ele exalta a natureza ("Cristais"), fala do cotidiano do homem no campo ("Caipira") e pede ajuda a um pai de santo para lidar com o primeiro amor ("Calundú").

"É uma música regional, mas roseana [referência a obra de Guimarães Rosa]. Eu parto da minha vida interiorana, das culturas com as quais eu consigo dialogar, tentando retratar essa atemporalidade", explica Braz.

Sérgio Ferreira/Divulgação
Sérgio Ferreira/Divulgação O cantor, compositor e pianista Breno Ruiz
O cantor, compositor e pianista Breno Ruiz apresenta com Renato Braz "Cantilenas Brasileiras"

Filho único, Ruiz cresceu em Itapetininga e já aos dez anos "animava bailinhos para a terceira idade". Mas não era tudo festa. Quando os pais se separaram, no início de sua adolescência, teve de cuidar cuidar da mãe, doente.

"Eu podia ter feito qualquer outra coisa para auxiliar no sustento de casa. Mas a música já estava na minha mão. Virei músico da noite. Fazia baile, trabalhei com jingle, campanha publicitária", lembra.

Com o tempo passou a compor. Procurou então Rafael Altério (hoje seu amigo), que morava numa cidade vizinha, e recebia em sua casa gente como Ivan Lins e Nana Caymmi. Pensou que alguém pudesse se interessar pelo seu trabalho, embora seja, avesso a esse tipo de abordagem.

"Existe uma distancia enorme entre perseguir um ideal e se deparar com a realidade, o que é um pouco cruel. A música é um luxo. Esse tipo de música que faço hoje me parece mais luxo ainda. Para você encontrar seu lugar ao sol, ou você tem dinheiro pra investir na carreira ou faz lobby. E nunca soube fazer isso. A única pessoa que procurei deliberadamente foi o Rafael", conta.

Nessa época passou a entender como funcionavam os bastidores deste universo e percebeu que ele não se adequava a sua realidade. "Eu precisava de um sustento imediato. E o tipo de música que eu fazia não ia garantir isso. Continuei compondo, sendo reconhecido pelos parceiros e me fazendo conhecido, mas ao mesmo tempo fui fazendo as coisas que pagavam as minhas contas", explica.

Esse processo atrasou a produção do seu primeiro disco, "Cantilenas Brasileiras", que inclui "Caipira" e "Calundú" e outras 14 canções, e está em processo de finalização. "Consegui esperar. Deixei essa música amadurecendo, cozinhando em banho maria ao longo desse tempo todo. Mas não precisei ficar perseguindo gente da noite, como muita gente faz, o que não critico".

Com tratamento sofisticado —algo como Almir Sater encontra Villa-Lobos—, as músicas nos transportam para um dia amarelo brilhante, com terra vermelha, um rio sossegado com muitas plantas ao redor.

"Se eu não tinha condição de ir pro interior do Amazonas ou para o Nordeste, frequentava terreiros, ia para Folia de Reis. Em São Paulo [onde mora] eu encontro na rua um pouquinho da Bahia e de vários nichos dessa realidade interiorana. Sou um caipira urbano, transito nessa urbanidade maluca, mas as coisas continuam dentro de mim".

Casa de Francisca. R. José Maria Lisboa, 190, Jardim Paulista, tel. 3052-0547. 44 pessoas. Qui. (29): 21h30. Couv. art.: R$ 44. Reserva p/ casadefrancisca.art.br.

Publicidade
Publicidade