Centro de pesquisa usado por Gabriel Medina treina atletas para Olimpíada

Os Jogos Olímpicos de 2016 serão no Rio da Janeiro, mas o segredo que pode levar muitos brasileiros ao pódio está na zona sul de São Paulo, guardado em um galpão repleto de sensores, computadores e equipamentos de última geração.

Trata-se de um verdadeiro laboratório do esporte de alto rendimento, que já ajudou Gabriel Medina a ganhar o título mundial de surfe, refinou os movimentos do ginasta campeão olímpico Arthur Zanetti e tornou mais eficientes os golpes dos boxeadores Esquiva e Yamaguchi Falcão, medalhistas em Londres-2012.

A capital paulista acaba de ganhar o mais moderno centro de pesquisa de esporte de alto rendimento do país. A inauguração oficial deve ser em fevereiro, mas os atletas já estão na ativa. O complexo ocupa uma área de 20 mil metros quadrados para testes e treinos. E que também poderá se tornar o celeiro de medalhistas em Olimpíadas no futuro.

O NAR (Núcleo de Alto Rendimento) existe desde 2011, mas ocupava uma sede mais acanhada. O novo espaço foi erguido graças a uma parceria da prefeitura com o Instituto Península, braço de investimentos sociais da família do empresário Abílio Diniz, que colocou cerca de R$ 15 milhões na empreitada. O governo municipal cedeu a área, o Centro Esportivo e Educacional Joreg Bruder, em Santo Amaro, zona sul.

O acordo vale por cinco anos, mas pode ser renovado. Como contrapartida social, o local será usado por estudantes de um CEU a ser construído e poderá ajudar na formação de jovens atletas da região.

"Queremos ampliar nosso trabalho e aumentar a base. Os professores da rede pública poderão vir ao NAR e dividir esse conhecimento. Se um professor descobre um talento, faz o quê? Pode trazer para uma equipe que está de olho neles. Meu sonho é não só fazer isso chegar ao CEU daqui, mas ampliar para outros", diz o diretor, Irineu Loturco.

O NAR foi criado quando Diniz estava no Pão de Açúcar. Com sua saída, o espaço se desvinculou do grupo e foi preciso encontrar um novo terreno. Pelo anterior, passaram mais de 1.500 atletas e 16 seleções.

Esquiva e Yamaguchi Falcão, por exemplo, frequentaram o núcleo antes de Londres-2012, onde ganharam uma prata e um bronze. A nova sede tem uma pista de atletismo oficial azul, do mesmo modelo usado por Usain Bolt na Jamaica, três raias para corrida indoor, um octógono de MMA, um campo de futebol e duas áreas para treino de saltos em altura e distância, além de dormitório, refeitório e área de convivência.

O foco principal de Loturco é a pesquisa em esporte de alto rendimento. O trabalho começa quando um treinador procura o NAR. A partir daí, são feitos testes para identificar qualidades e defeitos dos atletas —a maior parte deles mede força, potência muscular e velocidade. Tudo de graça. "Depois, conversamos com os técnicos, mostramos o que pode ser melhorado e comprovamos com dados científicos", diz o diretor.

Foi o que fez Gabriel Medina, 21. O primeiro brasileiro campeão mundial de surfe procurou o NAR em 2014. Os resultados dos testes ajudaram a evidenciar as capacidades do atleta. Ele se destacou, por exemplo, nos saltos verticais –saiu 48 cm do chão. É um habilidade natural, depois lapidada por seu preparador físico, Allan Menache.

Aplicando força sobre a prancha como faz contra o solo, ele consegue voar em manobras aéreas, quando os surfistas saem da onda e se movimentam como ginastas ou skatistas. Esse tipo de acrobacia é muito valorizada no Circuito Mundial.

Atletas paraolímpicos também melhoraram seu desempenho com auxílio do núcleo. O Brasil levou a Londres 50 atletas que passaram pelo NAR, incluindo a equipe de para-atletismo, que obteve 18 pódios.

O destaque é Allan Fonteles, o biamputado que corre com próteses e se tornou o maior velocista do mundo.

Seus testes mostraram que as próteses projetavam o corpo de Fonteles para cima durante a corrida. Ele quicava no chão, como uma bola, e perdia tempo. O corredor, então, mudou a postura de corrida, com o corpo mais arqueado para a frente, e ganhou velocidade —é recordista dos 100 m e 200 m rasos.

Além de aperfeiçoar atletas, o Instituto Península também quer ajudar na formação de pesquisadores e treinadores, com uma pós-graduação em alto rendimento esportivo. Depois, o plano é ter um curso de licenciatura em esporte.

"Queremos ainda trabalhar a ideia de centros de estudo Brasil afora, que o NAR se fixe como referência e multiplique o número de pesquisadores", diz a diretora do instituto, Alice Damasceno. "Se você dissemina a pesquisa, ajuda a melhorar a formação dos atletas, gera mais medalhas e mais reconhecimento olímpico para o Brasil."

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