Carnaval 2015

Padres presidem escola de samba e ensaio é após a missa; veja vídeo

Nos tempos mais primórdios, o Carnaval nascia entre o sagrado e o profano. Que o diga a escola de samba Dom Bosco, em Itaquera, zona leste, cujo presidente é o padre salesiano Rosalvino Moràn Viñayo, 73.

O vice da agremiação, Renato Tarcísio de Moraes Rocha, 37, também é sacerdote —e ainda toca repinique (tambor com baquetas) na bateria.

Além de rezar missas, celebrar casamentos e coordenar projetos sociais, a dupla participa dos ensaios da agremiação religiosamente, todas às quartas, sextas e sábados, às 20h.

Na noite de quarta (28/1), emendaram a missa com o samba: eram 500 pessoas na quadra, com quatro puxadores embalando a comissão de frente e as passistas. De chapéu-panamá e camisa da escola, padre Renato tirou a batina e entrou no meio dos 70 ritmistas da bateria com seu repinique. Já Rosalvino se divertiu cantarolando e balançando os braços. "Ainda não entendem um padre metido no meio do mulheril. Deus não me deixa ver."

Os religiosos pretendem levar 1.200 componentes ao Sambódromo do Anhembi, entre eles baianas, passistas (seminuas, inclusive), velha-guarda e destaques. O enredo homenageia o fundador da congregação salesiana: "Dom Bosco: 200 Anos de Amor ao Próximo... Um Presente para o Mundo".

A escola nasceu no ano 2000, "com a Bíblia numa mão e um tambor na outra, para atrair a juventude que não se adaptava", afirma Rosalvino. Segundo ele, fundar a agremiação foi a solução encontrada para arrebanhar um grupo de jovens "mais arredio e indisciplinado, que não queria saber de estudar nem tinha interesse nas atividades educativas" oferecidas pela obra social, como cursos profissionalizantes e oficinas preparatórias.

Hoje, o programa coordenado por eles atende diariamente a 5.000 pessoas em 15 endereços em Itaquera e Guaianases, entre centros de cultura, casas-abrigo e creches.

O método de Rosalvino para atrair a juventude não é apreciado por alguns fiéis e superiores da Igreja Católica. "Disseram que eu era um padre louco, mas funcionou." Algumas lideranças mais tradicionais chegaram a recomendar que Rosalvino deixasse os projetos carnavalescos, mas ele conta que conseguiu mostrar que a experiência era benéfica para os jovens. O sacerdote não chegou a receber aprovação, embora não tenha sido mais incomodado.

O Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Dom Bosco será a 11ª escola a desfilar pelo Grupo 1 do Carnaval paulistano, na segunda (16/2).

Para 2015, o objetivo é subir para o Grupo de Acesso, espécie de série B do samba paulistano. Rosalvino sairá à frente do carro abre-alas, com seu inseparável jaleco branco. "Fazemos um Carnaval diferente, sem álcool. A letra do nosso samba-enredo é recheada de elementos teológicos", afirma o padre Renato, que vai na bateria.

Ensaios. R. Álvaro de Mendonça, 456, Itaquera, zona leste. Qua., sex. e sáb., às 20h. Grátis
Desfile. Sambódromo do Anhembi. Av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana, zona norte. Ing.: retirar na escola ou na Uesp (União das Escolas de Samba Paulistanas). Seg.:16/2. Grátis

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