Novo disco de Jair Naves é resposta ao de estreia

"[O álbum novo] é uma resposta ao que mostrei anteriormente", diz Jair Naves —ele parece se dar conta naquele momento que "Trovões a me Atingir", que ele mostra no Auditório Ibirapuera na sexta (27), é mesmo bem diferente do seu trabalho de estreia ("E Você Se Sente Numa Cela Escura, Planejando A Sua Fuga, Cavando O Chão Com As Próprias Unhas").

Até a voz mudou. As comparações com Renato Russo e Ian Curtis devem diminuir. "Sempre fui muito inseguro em relação à minha voz. Trabalhei isso principalmente do último disco pra cá", conta. Uma das suas referências no período foi Nelson Gonçalves.

E não é só: um pouco mais distante do pós punk que o formou no início da sua carreira (Okotô e Ludovic), Naves dialoga com outros subgêneros do rock e até arrisca um atabaque (percussão de sambista) em uma canção ("B").

CANTANDO COM OS AMIGOS

Não é ele quem toca, no entanto. A princípio nem queria o instrumento. "Foi ideia do meu baterista [Thiago Babalu]. Esse trecho específico foi o que mais deu discussão", lembra.

Babalu veio com a ideia de inserir um solo de atabaque, "uma coisa meio macumba", paralelamente ao som de um trompete. "E eu 'nem ferrando, você tá maluco?", diz aos risos. No fim, Naves assentiu alertando que poderiam tentar, mas que ele cortaria no fim. Mas no fim mesmo, acabou gostando.

A introdução do instrumento, que soa um pouco fora de contexto, parece seguir uma tendência iniciada por bandas como Metá Metá, Afroelectro e Bixiga 70, que bebem em fontes africanas.

Para Naves, reflete o espírito de time. "Os convidados colocaram muito de si. Principalmente os instrumentistas. O Guizado, o Rafael Evangelista". Ele diz, inclusive, que se sentiu impelido a chamar cantores diferentes que dialogassem com as canções. Barbara Eugênia canta a quarta faixa (a mesma "B") praticamente inteira. "Tem uma doçura que eu não enxergava na minha voz. E ela tem uma voz peculiar que passa uma vulnerabilidade e uma força ao mesmo tempo", conta.

OUÇA A MÚSICA "B"

Vídeo

ESPÍRITO DE EQUIPE

O clima coletivo se estendeu à realização de "Trovões a me Atingir". O álbum foi gravado nos estúdios El Rocha e Kalundu, em São Paulo, por meio de financiamento coletivo. Ele arrecadou R$ 31.315,00, gastos em pagamento de músicos, prensagem de CDs, diárias de estúdios e brindes, via site catarse.me.

Com produção do próprio Jair e da banda que o acompanha nos palcos (Renato Ribeiro, no violão e na guitarra, Felipe Faraco no teclado e no sintetizador, Rafael Findans, no baixo, e Thiago Babalu na bateria), o trabalho tem 14 músicas.

"Pensando no disco anterior, tudo que eu lanço é uma resposta ao que mostrei anteriormente. Naquele, eu fiz com as pessoas terem essa visão meio densa. Agora pensei em dar um tratamento um pouco mais leve. É uma visão mais calma sobre temas cotidianos difíceis. Talvez daí que se sinta diferente", conclui.

Auditório Ibirapuera Oscar Niemeyer - Pq. Ibirapuera. Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portões 2 e 3, tel. 3629-1075. 800 lugares. Sex. (27): 21h. 90 min. Livre. Ingr.: R$ 10 a R$ 20. Ingr. p/ 4003-1212 ou ingressorapido.com.br.

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