'Racismo no Clube Tietê existiu, mas foi algo pontual', diz ex-presidente

O Clube de Regatas Tietê morreu, mas não era racista, sentencia Lauro de Melo Carvalho, último presidente da entidade, desapropriada em 2012 pela prefeitura e reaberta no ano passado como centro esportivo público.

Carvalho diz que a restrição a negros, ocorrida em meados do século passado, aconteceu a mando de um diretor, sem apoio dos sócios do clube.

Ex-funcionário da Caixa, ele acusa a faculdade Zumbi dos Palmares de ter agido nos bastidores para expulsar o clube. Antonio Moreno, secretário de Esportes na gestão Kassab, diz que a decisão foi técnica e que a área estava "subutilizada e degradada". Procurada, a Zumbi não quis se pronunciar.

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sãopaulo - Houve racismo no Tietê?
Lauro de Melo Carvalho - De fato aconteceu. Foi um ato de um diretor autoritário que fez algo [restringir os negros] que não deveria, inclusive barrando o ator Milton Gonçalves. Ele foi retido, mas não pela coletividade tieteana nem pela diretoria. Foi ato exclusivo de uma pessoa, que acabou destituída. Foi triste. Ficou uma imagem ruim.

Já foi ao clube depois da reforma?
Não e passo longe. Não quero ir lá nunca mais. O Tietê acabou. Agora é um parque. Acabaram com as piscinas e com tudo. Só ficou a sala de troféus.

Como explica a desapropriação?
Foi uma armação pra derrubar o Tietê. Tínhamos uma dívida de R$ 25 milhões. Quanto deve a Portuguesa? O Corinthians? R$ 300 milhões. Temos uma propriedade na Guarapiranga que valia R$ 60 milhões. Daria para pagar a dívida e sobraria dinheiro para levantar o clube. Foi uma desapropriação política.

Por quê?
Por causa da faculdade [Zumbi dos Palmares]. Eles aproveitaram o embalo da nossa dívida e criaram um esquema para ocupar um prédio feito tijolo a tijolo pelo Tietê. A diretoria acreditava que com a faculdade lá o Tietê nunca seria desapropriado. Aconteceu o contrário. Políticos nos procuravam e falavam: "Contem com a gente", mas por trás trabalhavam para eles [a faculdade].

De onde veio a dívida do clube?
Processos trabalhistas e dívidas com o INSS. E também da queda de público. Nos anos 1970, o clube tinha 35 mil sócios. Quando fechou, eram 2.000. Conforme São Paulo foi ganhando prédios, as pessoas passaram a preferir a piscina do condomínio a ir a um clube.

Há chance de o clube reabrir no terreno da Guarapiranga?
Não. Muitas pessoas processaram e ganharam lotes do terreno. Qualquer dinheiro que entrar será usado para pagar funcionários que foram à Justiça.

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