Uma das primeiras coisas que devem ser feitas quando um casal resolve se casar é a lista de convidados. É a partir da quantidade de pessoas que muita coisa vai se desenrolar, como a escolha do local adequado para o tamanho da cerimônia, a encomenda dos doces e dos convites.
Às vezes, pode não ser tão divertido —encaixar o número de entes queridos no orçamento para o casamento nem sempre é fácil.
Escolhidos os convidados, a vontade é mostrar o quanto eles são especiais, e é aí que costuma entrar o capricho na hora de escrever os nomes nos envelopes.
"O convite é a porta de entrada da festa", diz Carmen Guelfi, 61, especializada em caligrafia de convites desde 2000. Segundo ela, tanto casais tradicionais quanto os mais modernos têm escolhido esse tipo de escrita.
"Escrever senhor e senhora no convite é elegante, mas os jovens optam pela afinidade e usam, por exemplo, só o primeiro nome do convidado."
Foi por hobby que Valéria Serejo, 35, começou um curso de caligrafia, há 12 anos. "Depois, vi que tinha mercado para trabalhar." Agora, ela faz curso de tipografia para ampliar o conhecimento. Valéria trabalha sete horas por dia e escreve 200 convites.
"A caligrafia hoje está em alta. Escrever o nome correto é essencial e demonstra preocupação", diz Valéria. Ela conta que ajuda seus clientes a preparar a lista. "Indico escrever formalmente para pessoas formais, no caso de convidar uma autoridade, por exemplo. Mas não precisa ser assim para os amigos", explica.
Já Silvia Cavalcanti, 42, começou um curso de caligrafia aos 19 anos. "Encarava como um hobby. Quando fiquei grávida, há dez anos, decidi não voltar ao antigo trabalho e me dedicar à caligrafia." Ela conta que a tarefa exige atenção, e que sua margem de erro é de 3% a 5%. Por dia, dedica-se de dez a 12 horas. "Já tive noiva na Bahia que pediu 700 convites e, desses, errei quatro", comemora. "Escrever com a pena é difícil. Mesmo quem tem experiência pode errar."
Há 20 anos, Silvia já ouvia que a profissão acabaria por causa do computador. "A letra impressa não carrega a mesma emoção da letra escrita com pena. É a mesma coisa que admirar a tela e a gravura", compara a calígrafa.
O serviço de caligrafia impresso já existe. A Château du Papier, especializada em convites, oferece o serviço de impressão do envelope com letra que imita a caligrafia. Ele é indicado para noivos que têm pouco tempo para terminar os convites ou precisam baratear o serviço. "Temos um catálogo com 20 fontes. A caligrafia digital não vai substituir a manual", afirma o diretor Rafael Leite.
Se, em média, a caligrafia manual de um envelope custa R$ 2,50, a digital sai por R$ 1. "Nunca vai ficar igual à pena, que tem relevo. A impressora não faz nada disso", diz Leite.
Calígrafa e artista plástica, Andréa Branco, 48, começou na área há 27 anos e hoje dá aulas de tipografia para tatuadores e designers gráficos. "O maior mercado de caligrafia no Brasil ainda é o dos convites, que só cresce porque está inserido na indústria do casamento", diz.
A profissão é ensinada de pai para filho na escola do professor De Franco. Foi Antônio De Franco, avô de Flávio José De Franco Júnior, 57, quem fundou a escola que completa cem anos em julho. Fundada em 1915, já está na quarta geração e formou cerca de 80 mil alunos. Hoje, o sobrinho Antônio R. de Franco, 30, também é professor.
Flávio, que aprendeu a escrever com o seu tio Edison, na década de 1960, explica que a sua escola oferece cursos que ensinam como escrever com a caneta esferográfica e vários padrões caligráficos com a pena.
"Por mais que a máquina substitua a mão, nem tudo é possível. Nós temos até hoje um segmento inesgotável", diz Flávio De Franco.
Andréa Branco - andreabranco.com.br
Carmen Guelfi -fgconvites.com.br
Château du Papier - chateaudupapier.com.br
Prof. De Franco - profdefranco.com.br
Silvia Cavalcanti -facebook.com/silviacavalcanticaligrafias
Valéria Serejo - valeriaserejo.com.br