Atriz e psicóloga, Flavia Garrafa estreia comédia sobre terapia

Um cara que acha que é Deus, uma velhinha fofa que só fala palavrão, um homem que usa cronogramas para tudo e uma moça trocada por outra mais jovem.

Esses são os quatro pacientes da terapeuta Laura em "Fale Mais sobre Isso", a primeira peça escrita por Flavia Garrafa e o seu primeiro monólogo.

A estreia será no sábado (14/3), no Teatro Livraria da Vila do shopping JK Iguatemi (zona sul da cidade).

"Escrevi o texto em 2012, de uma vez só, foram três dias escrevendo", conta a artista, que foi incentivada pelo diretor e namorado Pedro Vasconcelos.

Sobre adiar o lançamento do projeto por três anos, ela diz que "tinha medo". "Agora, tenho menos", brinca. Formada em psicologia a pedido do pai (a quem dedica o espetáculo), ela usa sua experiência para brincar com as situações inesperadas no consultório.

Além de rir com as expressões cômicas e com as boas tiradas, a plateia também vai se identificar e se emocionar com as dificuldades de cada um.

A direção é de Pedro Garrafa, irmão dela. "Sempre tive muita vontade de dirigir a Flavia, sempre foi um sonho." Ele diz que dá para fazer teatro falando de diversos temas com leveza, chegando de fato ao público, e que "todo mundo em volta está com a mesma vontade de fazer".

Os ingressos custam R$ 60 e já estão à venda pelo Ingresso Rápido.

Abaixo, leia entrevista com Flavia Garrafa.

Informe-se sobre o evento

Lila Batista/Divulgação
Flavia Garrafa em cena da comédia "Fale Mais sobre Isso", que estreia 14/3 na Livraria da Vila do JK Iguatemi
Flavia Garrafa estreia a comédia "Fale Mais sobre Isso" no dia 14/3, na Livraria da Vila do JK Iguatemi

ENTREVISTA COM FLAVIA GARRAFA

sãopaulo - Você escreveu o texto em 2012, mas só agora vai estrear a peça. Por que adiou tanto?
Flavia Garrafa Eu tinha medo. Agora estou com menos medo [risos]. É que é muita responsabilidade. Agora, se algo der errado, a culpa é minha, a responsabilidade é minha. Eu sou autora, eu que enceno, meu irmão que dirige. Se alguém disser "você estava bem, mas o texto é ruim", vai ser culpa minha. Se disserem "o texto é bom, mas a direção é ruim", também, porque o Pedro é meu irmão e concordo com tudo que ele faz na peça. É tudo em família.

Você acha que todas as pessoas precisam de terapia?
Não acho mesmo. Eu acho que todo mundo tem um monstrinho dentro de si, isso sim. Se não tomamos cuidado, ele vai se alimentando de neuras e, quando menos esperamos, engole a gente! Somos, muitas vezes, nosso maior inimigo. Tem vários jeitos de cuidar desse monstrinho: esporte, arte, terapia, kumon, sei lá. O importante é olhar para dentro.

Você chegou a trabalhar alguma vez assim, num consultório?
Nunca! Sou muito hiperativa para ficar sentadinha ouvindo [risos]. Na verdade, atendi só na faculdade, foi uma experiência interessante e reveladora! Uma vez, uma paciente começou a chorar e eu não aguentei e disse: "Espera aí que eu já volto". Fui ao banheiro, chorei também e voltei, com um monte de papel higiênico na mão, dizendo: "Fui buscar para você enxugar suas lágrimas". Ufa, que bom que eu virei atriz, né?

Qual o lado bom e ruim de trabalhar com seu irmão?
O lado bom é muito grande. Além de ele ser extremamente talentoso, nos queremos bem, lidamos com problemas de maneira afetuosa e sincera e pensamos no teatro de maneira muito convergente. Agora, por causa de toda essa intimidade, e além de trabalharmos juntos em outras coisas, os assuntos se misturam, às vezes perdemos um pouco de tempo de ensaio discutindo outras coisas —por exemplo, falando do nosso sobrinho que vai chegar. Vamos ser tios! Meu irmão mais velho está "grávido" e os tios "piram" no ensaio [risos]! Mas o mais difícil e lindo é ver aquele seu irmão sete anos mais novo, em quem você sempre mandou, mandar em você. E eu obedeço. A vida é muito maluca.

Você disse que sempre deu aula de teatro. O que você ensina, exatamente?
Dou aula de teatro desde os 19 anos. Adoro! É onde sou psicóloga e atriz. É uma atividade extracurricular que desenvolve a sociabilização, a criatividade, a concentração e o uso de linguagens. Não é um curso de formação de atores, é uma oportunidade de experimentar e apaixonar-se pelo teatro! É uma chance de, dentro da escola formal, o aluno se permitir testar outras habilidades e encantar (aos outros e a ele mesmo) com elas! Hoje, dou aula no Colégio Visconde de Porto Seguro e coordeno a Equipe Flavia Garrafa de Teatro, com dez profissionais, entre professores e assistentes.Trabalhamos em outras escolas também. A minha formação me permite ter um olhar mais técnico e pedagógico, tanto com os alunos como com os profissionais. Eu acredito e gosto muito desse trabalho.

São quatro pacientes na peça. Todos foram inventados ou são pessoas que você conheceu?
São pacientes inventados, mas muito conhecidos de todos nós. Na verdade, as características deles nos fazem pensar em alguém que conhecemos ou em nós mesmos.

Não é só comédia, não? A peça é triste também, chorei no final.
Você vai chorar é agora com o que vou te contar. A peça é pro meu pai. Ele me pediu para fazer faculdade de psicologia. "Se garanta, minha filha", ele dizia. Eu passei na USP e ele morreu de infarto, aos 47 anos, quando eu estava no primeiro ano. Terminei a faculdade por ele. E essa peça é a síntese do que meu pai queria. Do que eu queria. É pra ele.

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