Moema perde seu mais antigo casarão

Quando Moema, na zona sul, ainda era um pequeno povoado de operários da estrada de ferro São Paulo - Santo Amaro, o procurador-geral do Estado Raul Loureiro decidiu se assentar ali e ajudar a desenvolver um novo bairro. Em 1927, ergueu lá um casarão para ser a nova morada de sua família.

Há cerca de duas semanas, esse casarão, memória da transição de uma Moema bucólica a reduto da classe média-alta paulistana, foi ao chão. Apesar de sua história e de ser o imóvel mais antigo do bairro, não tinha proteção do patrimônio histórico municipal. A demolição foi registrada em fotos pelo blog "São Paulo Antiga".

O imóvel era ainda mais velho do que a igreja de Nossa Senhora de Aparecida de Moema, construída em 1933, e ficava bem em frente a ela, ambos na avenida Ibirapuera.

"Eu fiquei muito triste, era o histórico de Moema, deveriam ter tombado há muito tempo para não demolirem", diz Zélia Loureiro Cursino, 87, filha do procurador que construiu a casa, no mesmo ano em que ela nasceu.

Ela diz que soube da demolição no último domingo (29). "O padre me falou: Nossa! Você viu? Demoliram a casa." Segundo Zélia, foi o pai dela, "segundo homem mais importante do Estado naquela época" quem "trouxe" a igreja para o bairro, assim como o calçamento das novas vias. "Minha mãe era muito devota de Nossa Senhora de Aparecida".

A filha do procurador diz que havia um boato de que a casa iria ser tombada, o que teria feito com que o atual proprietário, o dono da pizzaria La Sorella (o estabelecimento funcionou lá até o ano passado) demolisse o imóvel para não ficar sujeito às restrições que a preservação traria. Entre elas, justamente a proibição de demolir, além de limitações para reformas.

Na nova sede da La Sorella, na avenida Juriti, um funcionário informou à sãopaulo por telefone que, devido às escavações da linha 5-Lilás do Metrô nas imediações, haviam aparecido rachaduras na casa. Por isso o proprietário, o empresário Flamínio Fávero, haveria decidido demolir os primeiros seis metros a partir da fachada, para usar como estacionamento para a pizzaria que reabrirá no local.

Fávero não retornou as ligações da reportagem para se manifestar sobre as razões para a demolição. O Metrô informa que não recebeu reclamações referentes ao imóvel.

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