Exposição em SP tem obras com lixo do reservatório da Cantareira

Símbolo da crise hídrica, a carcaça automotiva com a frase "Bem-vindo ao deserto da Cantareira" foi retirada do reservatório no último dia 25. Na tarde seguinte, um desenho já reproduzia o emblemático veículo em uma das pilastras do local. A persistência e o traço, em ambos os casos, são de Mundano, 29.

Agora, ao lado do artista Mauro, 33, ele estreia, na Vila Madalena, zona oeste, uma exposição inspirada na crise hídrica de São Paulo. São cerca de 60 trabalhos da dupla, entre quadros e pinturas em cisternas ou objetos enferrujados encontrados na Cantareira.

Durante a mostra, uma maquete de um prédio com um galão de água em seu topo e um filtro interno oferecerá água de graça ao público.

Há tempos os dois se engajam em temas sensíveis da cidade. Nascido e criado no Grajaú, ao lado da Billings, Mauro organiza, desde 2006, uma série de intervenções e atividades culturais ao longo da represa. "Sempre tive uma ligação muito forte com o tema água e, quando vi a Cantareira pela primeira vez, foi impressionante. É um lugar monumental."

Nas obras de Mauro para a exposição, ele mostra desenhos em aquarela de figuras humanas sobre mapas hídricos de São Paulo. Eles abraçam copos imensos ou carregam caixas-d'água nas costas.

Já uma pintura colorida de Mundano simula o êxodo urbano, com um personagem fugindo da seca com garrafões de água e cactos presos a uma bicicleta.

O paulistano, que não gosta de usar seu nome de batismo, estampa muros com pensamentos diretos (de frases como "Menos presos políticos, mais políticos presos") e, desde 2007, já coloriu mais de 200 carroças de catadores de materiais recicláveis com o objetivo de dar visibilidade a esses trabalhadores.

"Me sinto parte da cidade e são essas coisas que me fazem sair de casa", diz. "Não poderia fazer trabalhos sobre outros temas."

Apreensivo e instigado pelas notícias sobre a falta de água em São Paulo, ele decidiu ver pessoalmente a situação do sistema Cantareira pela primeira vez em outubro do ano passado. "Precisava ver o que estava rolando, não acreditava muito nas notícias, na Sabesp. O que vi? Uma situação de calamidade pública."

Para chamar a atenção para o local, ele levou cactos com torneiras acopladas, que foram plantados na terra árida da Cantareira. Deu certo: as imagens rodaram as páginas de internet e jornais do Brasil e do exterior.

Em tempos de seca, depois de plantar os cactos, Mundano fez a pintura na carcaça do carro e grandes murais em pilastras, com ajuda de outros artistas, para marcar onde deveria estar o nível da água.

"Tanto o carro que foi retirado quanto os desenhos agora nas pilastras servem como marcadores de nível da água. Não dá para acreditar na medição da Sabesp", afirma o artista. "Quero que todo mundo passe por esse choque [de falta d'água]. Senão, não vamos aprender."

Serviço
VERACIDADE MUNDANA
A7MA - R. Harmonia, 95B, Vila Madalena, zona oeste, São Paulo, SP. Tel. (11) 2361-7876. Seg. a sex., das 11h às 20h. Sáb., das 11h às 22h. Até 4/4.

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