Dupla grava vinis em máquinas raras e produz discos quadrados em SP

Eles voltaram e as prateleiras estão recheadas. Só nos EUA foram vendidos 9,2 milhões de discos de vinil no ano passado, um aumento de 52% em relação a 2013.

Embora cada vez mais os bolachões estejam recuperando seu espaço no mercado, as máquinas usadas para fabricá-los são raras.

Em São Paulo, dois amigos mantêm três engenhocas de gravação de discos. Sob o nome Vinyl Lab (vinyl-lab.net), o produtor Arthur Joly, 38, e Bruno Borges, 34, o DJ Niggas, fazem pequenas tiragens de LPs em três formatos diferentes.

Uma máquina alemã da marca Neumann, feita na década de 1950, é a responsável pelos "duplates", cópias únicas que costumam ser usadas como moldes para duplicação. Trata-se de um equipamento que parou de ser fabricado por volta de 1980 —hoje restam apenas 50 unidades no mundo (duas delas no Brasil).

Como a reprodução é cara, a Vinyl-Lab faz esse tipo de produto, de acetato ou PVC, para DJs ou aficionados por som. Uma das outras máquinas é uma versão moderna da Neumann, a Vinyl Recorder, também alemã.

O modelo mais recente é uma engenhoca americana de gravação lo-fi, abreviação de "low fidelity" (baixa fidelidade) e um método de reprodução mais barato. Nela são gravados pequenos discos com capacidade de apenas quatro minutos e 30 segundos.

O disco quadrado custa R$ 20 a unidade e também faz papel de quadro, com desenhos que podem ser gravados em sua superfície. A cara de suvenir faz com que o formato seja bastante procurado por músicos como maneira de divulgação.

"É um som mais sujo", diz o músico Curumim, que fez 50 cópias com duas músicas suas no ano passado. "Agora penso em usar esse tipo de gravação para produzir som com uma tonalidade diferente."

Além da dificuldade de acesso, o maior problema é saber manusear esses equipamentos. Para Joly e Bruno, isso significou inúmeras trocas de e-mails com outros estudiosos do assunto no mundo, assistir a vídeos na internet e até um curso feito por Joly nos EUA.

"Máquinas de vinil hoje são projetos totalmente caseiros e que praticamente ninguém vende", conta Bruno. A Vinyl Recorder é vendida apenas por seu fabricante, um alemão, para pessoas selecionadas por ele a dedo.

"Tentei comprar, mas ele me rejeitou. Só conseguimos adquiri-la por meio de um amigo", diz Joly. Quem for escolhido pelo inventor ainda precisa fazer um curso com ele na Alemanha.

"Não é uma coisa que você compra e sai fazendo", diz Bruno. "É preciso ter conhecimento de áudio, masterização e de corte de vinil para poder fazer o sulco", completa Joly.

O negócio, que tem pouco mais de seis meses, é tocado no estúdio de Joly, na Vila Mariana, zona sul. Além dos perrengues de manutenção das máquinas, as gravações caseiras exigem que cada disco seja ouvido integralmente durante o processo, tenha ele três ou 30 minutos.

A dupla não vive das gravações, mas pretende quitar logo o investimento feito. Apesar de recente, a Vinyl-Lab já tem sido requisitada e, normalmente, recusa apenas pedidos para gravar músicas que não são da autoria do cliente. "É ilegal e há o risco de perdermos algo no que investimos nossas vidas", explicam.

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