Instrumental, banda de Curitiba cria músicas climáticas

As oito músicas do álbum "Rasura", o quarto do ruído/mm (lê-se ruído por milímetro), que toca no Sesc Belenzinho, na sexta (27), poderiam integrar a trilha sonora de filmes românticos, de suspense, de estrada, sobre chegadas e partidas.

Sem letras, ao som de guitarras, piano, teclados, percussão e sintetizadores, o sexteto —que até gosta de receber a classificação post-rock, embora não se identifique em nenhuma "caixinha"—, cria pequenas histórias.

A quarta faixa, por exemplo, "Transibéria", que começa com o ruído de um trem em movimento, leva o ouvinte a uma cena melancólica. Pode ser um casal, num domingo chuvoso, largado em uma cama dentro de um quarto com paredes envidraçadas ou um cenário bucólico, no campo, vagões adentrando um nevoeiro.

"Construímos imagens em cada trecho. Nem sempre as pessoas tem a mesma percepção. Mas ao tocar, pensamos 'agora é a hora da chuva, ou do trenzinho no nevoeiro'", diz André Ramiro, um dos guitarristas da banda de rock instrumental.

MÚSICAS PARA AS TELAS

O grupo, formado ainda por Ricardo Pill (guitarra), Giovani Farina Giva (bateria), Alexandre Liblik (piano teclados e sintetizadores), Rafael Panke (baixo) e Felipe Ayres (guitarra e samplers), tem, inclusive, recebido ofertas para compor para curtas e vídeos breves. O maior pedido veio de Aly Muritiba, que está dirigindo o longa "O Homem Que Matou a Minha Amada Morta".

Ramiro acha uma boa oportunidade. "A gente vive em um nano mercado. É uma parcela pequena de pessoas que realmente gosta desse tipo de música. É difícil vender um show de uma banda que não consegue colocar 3.000 pessoas em um lugar ainda. A trilha sonora nos colocaria em outro tipo de mercado", reflete.

OUÇA "REQUIEM FOR A WESTERN MANGA"

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FORA DA CURVA

Suas músicas, que chegam ter até dez minutos de duração ("Requiem For a Western Manga"), mudam de direção muitas vezes. "Talvez em "Brandon" (que abre o disco) isso seja mais evidente, vai entrando numa viagem. Fazemos várias músicas em uma só. Ela tende a mudar tanto para não soar tão cansativo para o público e nem para nós."

Bem distante dos solos virtuosos de algumas bandas instrumentais, o ruído não dá muito espaço para a improvisação. "Acho engraçado que, depois dos shows, umas pessoas vêm dizer que curtiram as improvisações. Mas as composições do ruído não têm improviso. É tudo milimetricamente calculado", diz.

Pé no chão, o músico, que trabalha numa empresa do setor petrolífero ("os outros são biólogos, médicos, publicitários, designers", diz aos risos), não vê perspectiva para o ruído/mm no Brasil. "Acredito no mercado externo. Europa, Japão, Estados Unidos e Canadá tem espaço para uma banda como a nossa. Nunca tocamos fora, mas nem em todos os lugares que gostaríamos no Brasil", explica.

Sesc Belenzinho - teatro. R. Pe. Adelino, 1.000, Quarta Parada, tel. 2076-9700. 392 lugares. Sex. (27): 21h. 90 min. 12 anos. Ingr.: R$ 7,50 a R$ 25. Ingr. p/ sescsp.org.br.

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