"Era dessa [nave] que a Xuxa descia toda manhã", brinca o DJ Nato_PK, 34, ao observar um trambolho quadrado e cheio de botões.
Ele está diante de uma MPC (Music Prodution Center), máquina que grava, armazena e modifica sons. Os modelos mais antigos do apetrecho chegam a pesar dez quilos, funcionam com disquetes e são xodó de muitos DJs, principalmente os de rap.
Em São Paulo, quem se interessa por esses equipamentos e pela produção de som tem um encontro toda quarta-feira na loja de discos Casa Brasilis, em Pinheiros, zona oeste.
As atividades têm início quando o primeiro a chegar pinça aleatoriamente um disco na seção de promoção. Dali, podem sair LPs de Agepê, Fábio Jr. e Simone a sinfonias do compositor russo Tchaikovsky. Até a trilha sonora da novela "Pantanal" foi pescada diretamente de 1990.
Escolhido o disco, cada um dos participantes tem dez minutos para "absorver" trechos sonoros para seu computador ou MPC. A partir daí, o produtor tem até as 21h para apresentar sua batida ao resto do grupo.
O espaço recebe até 20 produtores por vez, que vão até a loja pela proposta de criar rápido e sobre uma música com a qual eles não estão habituados.
"Fazer som é algo muito solitário, e aqui você muda a sua rotina, vira algo imprevisível", afirma o produtor e cozinheiro Caio Barreto, 33, o Sala 70. "É como se fosse aquele futebol entre amigos na quarta-feira."
Também é uma chance de trocar conhecimento sobre o modo de produzir as batidas, ou "beats".
"É um equipamento que tem um processo diferente do de um computador, com software", diz Nato.
As músicas mal lembram os discos que as originaram e, apesar de diferentes, têm uma unidade entre si. "No fim, todo mundo assina o vinil que foi usado e ele é sorteado", conta o DJ Niggas, 33, dono da loja e criador do evento.
O resultado é compilado em um arquivo e publicado nas redes sociais.
Casa Brasilis. R. Amália de Noronha, 256, Pinheiros, São Paulo, SP. Tel.: (11) 2825-9705. Qua.: a partir das 16h. casabrasilis.com.br. GRÁTIS