Após um mês, lei dos pets em ônibus é bem recebida, mas faltam informações

À vontade apesar da trepidação do coletivo, Flor da Silva fez sua primeira viagem de ônibus nesta semana. Aos quase dois anos, a vira-lata ajudou a sãopaulo a verificar como funciona a permissão, em vigor há um mês, para levar animais de pequeno porte nos ônibus municipais paulistanos.

Nas sete viagens feitas pela reportagem em todas as regiões da cidade, sobressaiu-se a boa recepção de motoristas, cobradores e passageiros aos colegas de quatro patas, embora ainda faltem informações sobre a novidade.

É mais frequente ver pets trafegando nas linhas de bairros periféricos. Silmara Bacelar, 23, vive em Santo Amaro, na zona sul, e levou 1h 30 de trem e ônibus para levar o gato Chaves ao Hospital Veterinário Público do Tatuapé, na zona leste (r. Serra de Japi, 168, tel. 2936-4745). "Na zona sul não tem veterinário de graça", diz ela.

Antes da legislação já se levava bichos em ônibus, assim como há quem o faça nos trens e no metrô, onde a nova regra não vale. Silmara, que tem mais um gato e dois cachorros, afirma que "sempre" os transportou de ônibus e nem sequer ouvira falar na novidade. Para a estudante, a lei deveria ir além: "Poderia ter uma cadeira exclusiva para os bichinhos."

Agora, o constrangimento parece ter mudado de lado: pensa duas vezes quem vai contra os animais. Foi assim com José, de aparentes 50 anos, para quem "é errado ter que disputar com bicho" —ele não quis dizer o sobrenome.

"No entrepico não faltam ônibus e eles andam vazios, e nos picos não permitimos os animais. Então isso não se justifica", diz Jilmar Tatto, 49, secretário municipal de Transportes.

Demanda antiga de militantes dos direitos animais, a condução já fora aventada pela "bancada pet" da Câmara Municipal. O projeto aprovado pela Casa e promulgado pelo prefeito Fernando Haddad (PT) é do vereador David Soares (PSD).

"Não pode ter mais de dois bichos por vez, não pode entre 6h e 10h e entre 16h e 19h, precisa de gaiolinha e, se usar o assento, tem de pagar", explica o motorista Cláudio Campos em um coletivo na rua da Consolação.

Está quase tudo certo: é preciso também checar a carteira de vacinas e, segundo a lei, a cobrança dos R$ 3,50 independe do uso do assento. A passagem de Flor não foi cobrada nenhuma vez. O animal tampouco pode ter mais de 10 kg. "A gente saca 'no olho', dá para perceber", disse Campos.

"No olho", Flor, 13 kg, passou. E a relativa boa informação do condutor é, por ora, mérito dele: segundo 14 motoristas e cobradores ouvidos, ainda não houve treinamentos ou comunicados.

Prefeitura e SPTrans defendem um período inicial de testes.

"A lei é recente, estamos nos 60 dias de regulamentação. Você define um conceito e o dia a dia é que vai dizer as dúvidas e novas demandas. A função da prefeitura é facilitar a vida de todos, não criar dificuldades; a ideia aqui é não burocratizar para não inibir o comportamento das pessoas", diz Tatto.

BILHETE ÚNICO CANINO?

Dúvidas ganham peso em uma cidade com mais de 2,5 milhões de cães e mais de 562 mil gatos, segundo o estudo mais recente (2007) do Centro de Controle de Zoonoses com a USP.

Falta, por exemplo, um modelo para a carteira de vacinação: os atuais registros são emitidos por veterinários, o que amplifica as versões e dificulta a fiscalização —não foi pedida a de Flor nenhuma vez.

"No futuro pode-se ter um cadastro no próprio telefone, ou um dispositivo no Bilhete Único que possibilite comprovar as vacinas. A tecnologia permite tudo", defende Tatto.

Os benefícios também são louvados pela população. Como a maioria dos taxistas recusa passageiros com focinho, aos sem carro resta o "táxi dog", que cobra em média R$ 3 por km —ante R$ 2,75 do táxi comum.

"Finalmente pensaram em nós", celebra Arlete Silva, 52, que vive na zona leste com 18 cães e 13 gatos e gastou R$ 60 para levar um dos bichos, diabético, ao hospital público. Funcionários do local relataram aumento de 50% na frequência de visitantes.

"Temos de ser tolerantes nas relações. Aceitamos quem carrega uma bolsa grande, que às vezes atrapalha mais que um cachorro. Uma latida a mais ou a menos não atrapalha a vida de ninguém", afirma o secretário.

Próximo passo: ensinar a Flor a levantar a pata e chamar o busão.

Vídeo: CARLOS CECCONELLO e RODRIGO MACHADO | Edição: GIOVANNI BELLO

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