'Por que decidi tirar minha minha primeira habilitação aos 38'

"Carro é liberdade." Cansei de ouvir isso sempre que revelava não saber dirigir e, mais do que isso, que não queria ter habilitação. Nunca senti que estava perdendo a minha liberdade por não ter um automóvel. Ando de ônibus, caminho, pego táxi e metrô numa boa. Mas eis que, aos 38 anos, precisei revisar minhas opções.

Quando os compromissos —do filho, do trabalho, da casa, enfim, da vida— começam a se encavalar e a causar miniataques de pânico, dirigir resolve uma parte dessa encrenca.

Antes da carteira, meu mundo ficava caótico só de pensar nas visitas quinzenais ao dentista do meu pequeno para a revisão do aparelho. E simbora fazer roteiro e consultar os melhores caminhos para, em cima da hora, apelar para o táxi mesmo.

Foi assim que respirei fundo e resolvi que já era tempo de somar um carro às opções. Enfrentei insegurança e um pouco de medo.

O processo para receber a habilitação está mais difícil do que quando eu tinha 18 anos. Especialmente quando você tem uma vida atolada até o pescoço de compromissos.

Entre aulas teóricas, marcação de testes, aulas práticas e, finalmente, o exame, levei seis meses para tirar a PPD (Permissão Para Dirigir).

Demorou mais que o normal, já que precisei desmarcar aulas para encaixar aquela reunião de última hora, o médico do filho, a consulta do gato no veterinário...

Embora lento, meu processo foi bem-humorado, com exceção do pânico em falhar no exame psicotécnico e a falta do que dizer na fila do teste quando todos os seus "companheiros" trocam figurinhas sobre vestibular e cursos universitários.

Fui aprovada de primeira. Agora, estou no segundo turno da brincadeira. Tenho meu carro e um instrutor para habilitados. Um rapaz cheio de paciência que anda comigo pela cidade dando dicas de como devo proceder e o que evitar.

Na autoescola, dificilmente pegamos a real vivência do trânsito. Sem falar que, aos 18, temos um espírito aventureiro e poucas responsabilidades. Com quase 40, carregamos os filhos no carro —os nossos e os dos outros. Pagamos o seguro e o conserto.

Sobre a liberdade que o carro traz? Não senti diferença, embora poder enfiar as compras no porta-malas e chegar seca em casa quando chove sejam um belo adianto.

O melhor é que consegui dirigir, algo que achava que jamais faria. Essa sim é uma satisfação libertadora.

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