'Não quero caminhar à sombra de Ron Mueck', diz escultor de galeria do ABC

Localizada no centro de São Bernardo do Campo, a Oma Galeria pode até ser confundida com uma pequena casa. Mas o local, na verdade, representa oito artistas contemporâneos —entre eles, Giovani Caramello, 24, que despontou por criar esculturas hiper-realistas que lembram, em menores proporções, as do australiano Ron Mueck.

O espaço recebe, até o dia 9/5, a exposição "Coletiva Múltiplos". Além de Caramello, a mostra reúne ainda obras de Thiago Toes —que mescla arte abstrata, cubismo e surrealismo—, de Rien, jovem artista cujas telas revelam um spray que lembra o piche, e de Daniel Melim, nome da galeria Choque Cultural, que exibe litogravuras.

"A ideia era sair do eixo Vila Madalena-Jardins e mostrar que a nossa região tem grandes artistas", avalia a arte-educadora Letícia Barrionuevo, que trabalha na Oma.

Como em outras galerias, as obras presentes na mostra podem ser compradas. Algumas delas, a exemplo da tela "Força", de Rien, e das esculturas de Caramello, já adquiridas, foram cedidas pelos colecionadores para essa exposição.

ABAIXO, CONFIRA AS ENTREVISTAS COM GIOVANI CARAMELLO E COM RIEN:

Você se incomoda de ser comparado a Ron Mueck?
Giovani Caramello - Acho que, a princípio, é legal pela divulgação que me proporciona. Mas eu quero ser o Giovani Caramello, não quero caminhar à sombra do Mueck. Acho que aos poucos eu vou conseguir, não tem muito segredo. Há muitos artistas que fazem esse tipo de obra, que se utilizam da mesma técnica, e não são chamados de "segundo Ron Mueck". É uma questão de identidade, vou seguir meu caminho.

De que forma a repercussão na imprensa mudou seu trabalho?
Estou trabalhando em três novas esculturas; fora elas, tenho outras encaminhadas. Acho que, para este ano, tenho seis ou sete obras em vista. Ainda não são encomendas, mas já existe um pessoal interessado. E as obras que estão aqui na galeria foram todas vendidas.

Como você aprendeu a técnica para criar as esculturas hiper-realistas?
Assim que saí do colégio, eu fiz um curso de computação gráfica e comecei a trabalhar com 3D. Depois, fiz um curso de modelagem em argila e foquei na escultura. Fui procurando na internet, comprando livros de fora e aprendendo.

Do que são feitas as esculturas?
São de resina e de silicone, depende bastante da obra. O silicone é mais translúcido e permite inserir cabelo, é mais macio. A resina não —preciso furar e ir colando os fios um a um. Só que o silicone é mais caro, importado, não tem no Brasil. Aí a gente fica dependendo do material que vem de fora para trabalhar.

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sãopaulo - Você tem 24 anos. Quando começou a pintar?
Rien - Com 15 anos eu já pichava na rua, escrevia meu nome nas paredes, era um negócio bem embrionário. E aí comecei a ver os caras que faziam grafite, achei muito legal, e com 17 anos comecei a grafitar. Não sei exatamente quando se tornou profissão. Acho que com 18 anos, mais ou menos, eu já pintava telas. A primeira que eu pintei me lembro muito bem —foi num dia que eu ia fazer um grafite com um pessoal na rua, mas estava chovendo muito. E aí comprei uma tela para ficar em casa e pintei.

Esse começo de carreira pode ser visto nas suas obras...
Sim, é por conta dessa "escola" do grafite que eu tento trazer esse tom mais ácido, o spray escorrido nas telas. Busco misturar o clássico do corpo da mulher, das cores mais claras, com o spray.

É difícil encontrar uma identidade própria quando se está começando?
Achar uma identidade é a coisa mais fácil e também a mais difícil que pode existir para o artista. Porque ela existe dentro de você; você sente naturalmente, não tenta recriar. Se tenta recriar fica muito claro que não é seu. Mas ao mesmo tempo é complicado buscar, lá no fundo do que você pensa e sente, o que você quer fazer de fato.

Informe-se sobre a exposição

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