Taxista concilia volante com a vida de pastor e diz que já converteu ladrão

O tráfego de São Paulo e as 12 horas diárias de trabalho tiveram o efeito contrário em José. O taxista mineiro de 61 anos mostra na pele negra sem rugas pelo menos uma década a menos.

Para ele, a expressão serena em meio ao caos tem uma explicação: é um homem de Deus. Há 12 anos, José de Miranda concilia uma das profissões mais estressantes da cidade com a vida de pastor de igreja evangélica.

Motorista desde 1985, manteve as duas ocupações por precisar do dinheiro. "Viver da obra não dá, só se abrir uma emissora de televisão", diz com a boca grande, de riso fácil.

Pai de um menino de sete anos, coordena cultos quatro vezes por semana em Santa Cecília e tem ponto no Ipiranga, onde lê a Bíblia no intervalo entre as corridas. A cada frase, arregala os olhos e cita salmos, com dicção de locutor e didatismo de professor.

Giovanni Bello/Folhapress
Taxista e pastor José Geraldo de Miranda posa em frente ao seu táxi
Taxista e pastor José Geraldo de Miranda posa em frente ao seu táxi

"Nós somos a luz do mundo e o sal da terra, sabia? Quando alguém entra no meu carro, vê a diferença. Tento transmitir a paz porque o mundo está em conflito", diz, enquanto passa em frente aos inferninhos do centro.

Os conselhos são frequentes nas corridas de José, quando conversa sobre futebol, mulher e, claro, religião. Entre os casos orientados pelo taxista há o da passageira que pensava em suicídio e o do ladrão convertido.

O último ocorreu há 15 anos, quando ele deu uma fechada em uma moto. Depois de estacionar, viu que o motociclista parou a poucos metros e começou a caminhar em sua direção. Tinha uma arma nas mãos.

O pastor abriu a janela do carro e partiu para a evangelização. "Eu disse: Deus te ama. Aí vi que ele começou a tremer. Saí do carro e dei um abraço." No lugar de xingamentos, ouviu: "Sou um crente desviado". O homem voltou a frequentar a igreja, conta o pastor.

José diz que está acostumado com a violência no trânsito e que também era impaciente "antes de aceitar Jesus".

Hoje, dá meia volta para fugir de brigas e do que chama de "aparência do mal". "O inimigo está penetrando no coração do homem. Peço que Deus me dê a paciência de Jó."

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