Novo CD de Siba parte do questionamento da posição desprivilegiada do maracatu

Em "De Baile Solto", novo disco de Siba —que a sãopaulo ouviu antes do lançamento oficial, que será feito na quarta (13)—, o artista fala sobre como dançar é imitar o vento, "fazedor de cafuné no coqueiral balançando" ("Mel Tamarindo"). Ele apresenta algumas canções deste trabalho, na Casa de Francisca, na quinta (14).

No show intimista, que não está vinculado a uma obra específica, o compositor revê momentos de sua trajetória, como a fase de sua carreira com a banda Mestre Ambrósio, com letras inspiradas na tradição popular e base musical de forró, maracatu, coco, baião, ciranda. Ele canta e toca guitarra e é acompanhado de Rodrigo Coelho (sintetizadores modulares) e Mestre Nico (percussão e voz), que também participa de "De Baile Solto".

José de Holanda
Em duas apresentações que fazem parte do Circuito São Paulo de Cultura, o cantor e compositor recifense Siba leva ao público o show "Azougue Vapor".
Siba apresenta algumas canções do seu novo álbum, "De Baile Solto", na Casa de Francisca

Neste álbum, que sucede "Avante", mais roqueiro e o seu primeiro solo, o pernambucano faz uma retomada rítmica de suas origens, que remete à música de rua, de ritual e do maracatu. "'Baile" é um olhar ao meu redor. Tem uma poética familiar, um assombro com a natureza, mas parte de um questionamento político", explica o cantor.

O questionamento, segundo ele, vem da posição desprivilegiada que o Maracatu de Baque Solto ocupa no panorama cultural do país. Em fevereiro de 2014, em Nazaré da Mata, na Mata Norte de Pernambuco, conhecida como a capital estadual do maracatu, representantes de grupos que promovem festas de rua ao som do ritmo nordestino relataram que a Polícia Militar estava restringindo às 2h o término das apresentações, que tradicionalmente ocorrem até o amanhecer.

Siba foi um dos artistas a se mobilizar pela causa na internet. "Ensaio de maracatu vai até o amanhecer, por costume secular. Para o maracatuzeiro, maracatu só é maracatu se amanhece o dia. Se não, vira "folclore", palavra usada na região para denominar todo tipo de apresentação artificial, show pra turista", escreveu em sua página do Facebook no ano passado. Após uma audiência ficou decidido que maracatus de baque solto e virado do município poderiam fazer seus espetáculos até as 5h, conforme dita a tradição.

O contexto influenciou a produção. "Esse disco ["De Baile Solto"] não é sobre uma situação, mas parte de uma situação desta vila de Pernambuco. O governo resolveu proibir uma festa tradicional. Foi muito discutido. Parte muito disso e de leituras de coisas que eu vi", conta o músico. "Retomando a referência na musica de rua, eu precisei repensar o nosso lugar na sociedade", continua.

Por isso, entre as dez faixas do seu novo trabalho, há letras politizadas que falam de consumo em excesso, de "passar no caixa, voltar sempre e comprar mais" ("Marcha Macia"), ou sobre a desigualdade social, em que "quem tem dinheiro tem nome, quem não tem não é ninguém" ("Quem e Ninguém").

"Pra mim, no fim das contas, o disco é a pratica da poesia. A ideia de assimilar o que faz qualquer um poeta tradicional: cantador de viola, cantador de coco, cirandeiro. Poetas que tem a música como veículo", explica. "Em 'Mel Tamadindo' talvez seja mais evidente a exaltação a essa figura da voz da rua. É uma referência a uma dança em roda em que o poeta tem quatro ou cinco horas para mostrar um repertório de improviso. A faixa é uma ode a essa atividade que é tao importante, tao bonita, inspiradora".

Casa de Francisca. R. José Maria Lisboa, 190, Jardim Paulista, tel. 3052-0547. 44 pessoas. Qui. (14): 22h30. 18 anos. Ingr.: R$ 44. Reserva p/ casadefrancisca.art.br.

Publicidade
Publicidade