Crise da água

'Finge-se que a crise da água acabou, mas é só o começo', diz cineasta

Todos os dias, o documentarista Caio Silva Ferraz, 28, via o rio Pinheiros pela janela do trem a caminho da faculdade. Esse contato com o leito poluído acabou despertando a atenção do então estudante de audiovisual do Senac para o tema da água.

Ferraz é codiretor do vídeo "Entre Rios" (2009), em parceria com Joana Scarpelini e Luana de Abreu. Um trabalho de conclusão de curso sobre a história dos rios de São Paulo que se tornou um hit na internet entre ambientalistas, educadores e pesquisadores.

Agora, ele acaba de lançar, com o Núcleo de Criação Palma, o primeiro capítulo de "Volume Vivo", uma websérie produzida com recursos arrecadados no site de financiamento coletivo Sibite.

Dividida em quatro partes, a primeira fala sobre a "Negação da Crise". Leia trechos da entrevista a seguir:

Luís Pane/Folhapress
'Finge-se que a crise da água acabou, mas é só o começo', diz cineasta Caio Silva Ferraz
'Finge-se que a crise da água acabou, mas é só o começo', diz cineasta Caio Silva Ferraz

sãopaulo - As pessoas estão negando a crise?
Caio Silva Ferraz - O Brasil é um país vasto e a gente acha que tem muita água. Nossa sociedade acredita que consegue resolver tudo pela tecnologia, mas a água é um fator limitador para planejar qualquer cidade.

Como a sociedade lida com isso?
A lógica que se perpetua no crescimento da cidade e nessa mentalidade tecnicista é a de buscar água de outras bacias hidrográficas para abastecer São Paulo, sem levar em conta os conflitos que se criam a partir disso. Piracicaba, Campinas e as indústrias dessa região estão mais vulneráveis do que São Paulo.

Qual seria uma solução alternativa?
São várias. É preciso tratar o esgoto que é jogado nos rios todos os dias e proteger os mananciais que já existem. Apenas 30% de toda a bacia que abastece o Cantareira tem mata nativa, o resto é pasto e eucalipto. Além disso, é preciso diminuir os vazamentos da rede e adotar a utilização de cisternas.

Você acha melhor o racionamento ou o rodízio?
Racionamento já existe, né? Mas não oficial. É evidente que neste ano a restrição hídrica vai ser muito maior do que no ano passado. Finge-se que o problema acabou, mas está só começando. Já já as torneiras vão voltar a se fechar.

Essa crise pode ser aproveitada para uma mudança de comportamento?
Podemos aproveitar para mudar o modo como usamos a água. Quando começou essa crise hídrica, quis abordar o tema de uma maneira mais aprofundada. O papel do "Volume Vivo" é mostrar os processos da gestão da água e dar ferramentas para as pessoas discutirem e se apropriarem desse recurso que deve ser gerido de uma forma pública.

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