'Jardins podem virar nova Vila Madalena', diz líder de moradores

A intenção da prefeitura de estimular a abertura de mais pontos de comércio nos Jardins pode acabar com um projeto de urbanismo centenário e transformar a região em uma nova Vila Madalena, onde bares com grande movimento incomodam os moradores.

Essa avaliação é do advogado Fernando Costa, presidente da AME Jardins, associação de moradores do bairro, que questiona o novo projeto de zoneamento da gestão Haddad (PT).

O plano prevê transformar algumas zonas exclusivamente residenciais em áreas que possam receber pequenos negócios, como restaurantes, escolas e mercados. A proposta foi encaminhada à Câmara e será debatida em audiências públicas nos próximos meses.

Samuel Costa/Folhapress
Fernando José da Costa, 42, Presidente da AME Jardins
Fernando José da Costa, 42, Presidente da AME Jardins

Como a associação avalia o projeto?
Fernando José da Costa - Com muita preocupação. A proposta pretende alterar regras estabelecidas desde a criação do bairro, há cem anos, e implantar as zonas corredores (ZC), o que aumentaria o comércio na alameda Gabriel Monteiro da Silva e nas avenidas Europa e Rebouças. Isso confronta a característica de um bairro residencial.

Que problemas o comércio traz?
Não somos contra o comércio existente, que é planejado. Não tem barulho, atividade noturna nem transporte de lixo em grandes quantidades. Nas ZCs, cada local poderá receber até cem pessoas por vez. Poderemos ter restaurantes e bares um ao lado do outro. Amanhã, pode-se criar uma nova Vila Madalena nos Jardins. Moradores de lá também brigaram contra a transformação do bairro em um local de casas noturnas. Muitos foram obrigados a se mudar.

O que a AME pleiteia?
Que seja mantido o uso estritamente residencial e que as avenidas continuem com o comércio como sempre foi. Nenhum morador quer mais comércio. Não há ilicitude em residir num bairro exclusivamente residencial. É um estilo de vida. Tem gente que prefere morar no centro, onde tem mais movimento. É importante respeitar planejamentos de vida.

O que a associação fará?
Entraremos com medidas judiciais se a lei passar na Câmara. É um caso clássico de direito adquirido. Estaremos em todas as assembleias e apresentaremos as demandas aos vereadores. Também faremos um trabalho de mobilização, pois muitos moradores ainda desconhecem os riscos trazidos pelo projeto.

Faltou diálogo com a prefeitura?
Lamento que a prefeitura tenha tratado o projeto de lei de forma superficial, sem se preocupar com o morador. Estamos falando de uma lei que terá vigor por 16 anos. O projeto foi apresentado no final do ano, em 31 de dezembro de 2014, e houve três assembleias em janeiro, no período de férias.

O que poderia ser feito?
Temos 4% do território da cidade com zonas exclusivamente residenciais. Por que não aumentar essas zonas, para que mais pessoas possam usufruir delas, em vez de excluir a qualidade de vida de quem já tem? O poder público inverte seus deveres: quer tirar de quem tem em vez de oferecer a quem não tem.

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