O álbum "Sobre a Vida em Comunidade" (2015), da banda instrumental Mahmed, é para relaxar a mente e os músculos. Na rede, no sofá, dentro do carro a caminho do trabalho ou lá na Casa do Mancha, na Vila Madalena, onde o grupo de Natal se apresenta neste domingo (28).
Para quem mora em centros urbanos movimentados e caóticos como São Paulo, é estranho conectar a sonoridade ao título do disco. A música "(Momentos) Antes de Dormir" —-que usa repetições como forma de reproduzir o abrir e fechar de olhos antes da entrega ao sono—, talvez seja a mais familiar. O barulho de uma sirene, produzido por um pedal, irrompe distante em uma melodia serena, quase se misturando a ela. Da mesma forma que uma ambulância atravessa o seu quarteirão quando você já está deitado.
Luana Tayze | ||
Integrantes da Mahmed, banda potiguar de música instrumental |
"A obra não termina no autor. A gente entrega um estímulo e as pessoas completam o significado na cabeça delas. No Acre, talvez, ela teria uma relação com a selva. Em São Paulo tem com o urbano. Como não usamos palavras, o papel do ouvinte é maior. A mensagem fica mais aberta", diz Walter Nazário (guitarra e synths).
O CD é o primeiro da banda, formada ainda por Leandro Menezes (baixo), Dimetrius Ferreira (guitarra) e Ian Medeiros (bateria). Chega dois anos após o EP "Domínio das Águas e dos Céus", lançado em 2013. Não tem letras, mas apresenta algumas parcerias vocais, como a de JJ Nunes, de Macapá.
A vida em comunidade da Mahmed é tranquila. O som, influenciado por gêneros diversos, como o rock, emana tranquilidade em grande parte das nove faixas. E manifesta as relações dos integrantes entre si e com o seu entorno. Traz o assoviar dos ventos e o vai e vem das ondas —referência a cidade praieira onde o grupo vive. "A gente traz uma paz misturada à melancolia. De brisa do mar. Comunidade é o que está circundando, as energias que a gente recebe", conta Walter.
"AaaaAAAaAaAaA", que abre o disco, é, hoje, descrita pelo quarteto como um grito mudo. A faixa ganhou o título, simplesmente, por ter sido gravada com essa grafia quando ainda era um arquivo provisório. Por falta de ideias o nome ficou. "A gente inventa as coisas de qualquer jeito e, depois, cria uma explicação e fala que é tudo poseia", diz o baterista Ian Medeiros aos risos.
Mais tristinha, a música expressa uma angústia de Walter. "Não consigo me dedicar 100% à música. Não é muito fácil sobreviver disso. Ter que trabalhar e investir muito tempo em outras coisas é pesado. Eu me sinto angustiado. Estava com isso na cabeça", explica.
"Costumo identificar a banda como uma que fala dos sonhos. Foi um ano trabalhando nisso. A definição do disco passa por tudo que a gente viveu, sorriu e chorou", finaliza Walter.
Casa do Mancha - r. Filipe de Alcaçova, s/nº, Pinheiros, região oeste, tel. 3796-7981. 100 pessoas. Dom. (28): 21h. 60 min. 18 anos. Ingr.: R$ 20.