'Sozinha, nova lei de zoneamento não atrairá comércio', diz urbanista

A proposta de revisão da lei de zoneamento da administração do prefeito Fernando Haddad (PT) pretende aumentar o número de pontos de comércio e serviços em várias avenidas. O tema está em debate na Câmara.

Para Larissa Campagner, urbanista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo) e professora do Mackenzie, esse crescimento só ocorrerá se antes vierem melhorias no espaço público e se ficar claro que há pessoas dispostas a fazer compras a pé, já que os novos prédios deverão ter menos vagas de estacionamento.

Ela também aponta que a lei permite poucas alterações nas chamadas zonas corredor (ZCor), avenidas que passam por áreas residenciais. A implantação delas em ruas dos Jardins gerou protestos de moradores.

Pedro Saad / Folhapress
A urbanista da ACSP e professora do Mackenzie, Larissa Campagner
A urbanista da ACSP e professora do Mackenzie, Larissa Campagner

*

sãopaulo - Como avalia a ideia de levar mais comércio para grandes avenidas?
Larissa Campagner - O plano parte da premissa de que haverá mais moradores e que as pessoas se deslocarão por transporte público, que será mais eficiente, ou a pé, em um espaço urbano agradável, com calçadas largas. Essas coisas ainda não estão prontas e vão levar tempo. Nenhum empresário vai colocar seu estabelecimento onde ainda não há mercado consumidor.

Qual o poder da lei de atrair o varejo?
Sozinha, a lei não consegue condicionar a instalação de atividades. O varejo vai onde há público. Tipos de comércio que ficam perto das estações e corredores de ônibus, como padarias e mercados, se beneficiam do público de passagem. Existem outros tipos que dependem de estacionamento, pois quem compra ali não consegue sair carregando os produtos na mão, como um lustre. Comércios dessas categorias terão que se adaptar para receber quem irá a pé.

Haverá alterações significativas nas zonas corredor?
Não. Há poucas mudanças em relação às regras atuais e as novas são superrestritivas. Em boa parte, só é permitido instalar comércios para atender ao público local. Vias classificadas como zona corredor 3 terão mais atividades do que antes, o que é plausível, pois serão aplicadas em vias como a rua Alvarenga (Butantã) e a avenida dos Bandeirantes, que são quase rodovias dentro da cidade.

No que a lei pode ser melhorada?
Estamos numa cidade consolidada, que tem preexistências informais. É importante que a nova legislação enxergue isso. Se 80% do comércio é irregular, e boa parte da habitação também, todos querem perverter a lei ou foi ela que não acompanhou as dinâmicas? A lei poderia ter avançado mais nesse aspecto.

Por que há tantos casos irregulares?
A lei exige que, para o comércio funcionar, o imóvel tem de estar regular. Às vezes, a irregularidade vem de uma bobagem, como uma cobertura onde não pode. Defendemos que seja necessário ter apenas as licenças relacionadas com a atividade, como laudo dos bombeiros. Esse modelo está previsto na nova lei, mas para empreendimentos de baixo risco. Por que não simplificar para todos?

Publicidade
Publicidade