Parte das cinzas de Sérgio Buarque de Holanda está em casa

O casarão de 450 metros quadrados erguido em estilo normando no número 35 da rua Buri, no Pacaembu, está vazio, preso nas engrenagens da burocracia, à espera de que a prefeitura lhe dê algum destino. Situação ingrata para uma casa que teve o passado recheado de fama e glamour, em cujo jardim dos fundos ainda descansa uma pequena parte das cinzas do historiador Sérgio Buarque de Holanda, morto em 1982.

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O autor de "Raízes do Brasil" habitou o imóvel a partir de 1957, junto de sua esposa e de seus sete filhos. Uma época em que a cidade era bem diferente. O economista Sérgio Buarque de Hollanda Filho lembra, por exemplo, das "peladas" em pleno bairro dos Jardins. "Minhas memórias mais vividas talvez sejam de jogar futebol com meus irmãos e a molecada da vizinhança na rua Taiarana, hoje Vitório Fasano. Naquele tempo a vilinha, de um quarteirão, não era asfaltada, mas sim de terra. Hoje tem hotel, restaurante, etc.", conta o economista que atualmente vive no Rio de Janeiro.

A casa dos Buarque, era frequentada por estrelas da intelectualidade, como Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior, Antonio Cândido e Manuel Bandeira. Mais tarde, as festas, que chegavam a contar com 500 convidados, passaram a ser coloridas por figuras como Caetano Veloso, Toquinho e Gilberto Gil.

Foi dali que, aos 17 anos, Chico Buarque saiu com um amigo para se aventurar num furto de carro. O retrato, batido na delegacia após a arruaça, foi parar nos jornais e acabou virando capa de disco: "Paratodos" (1993).

Após a morte do patriarca, a biblioteca de 10.000 livros foi doada para a Unicamp. A casa ficou fechada, depois foi invadida, passou por disputas judiciais e acabou comprada pela Prefeitura. O negócio oficializou-se em 2012 e o valor da desapropriação ficou em R$ 449.700, bem abaixo do que o imóvel valeria no mercado.

Desde então, o imóvel espera por um destino mais nobre do que permanecer desocupado. A secretaria Municipal da Educação afirma que vai transformar o casarão num centro de formação de professores. Destino que agrada Sérgio Filho. "Acho adequado o seu uso relacionado à formação de professores de história. Um museu da família, não. Seria uma coisa muito restrita", afirma o economista que, entre idas e vindas, morou no endereço por 14 anos.

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