Pena Schmidt não se esquece dos finais de semana no Ibirapuera, em 1954, rodeado por estandes com máquinas industriais, oficinas de costura e uma central telefônica. "Acho que sou quem sou por causa daquele tempo." Aos quatro anos, ele e a família eram frequentadores assíduos da exposição que, além de inaugurar o parque, comemorava o quarto centenário de São Paulo.
Ele deixou a cidade criança e voltou um jovem adulto, aos 21 anos, formado em eletrônica. Desde então, Schmidt não apenas adotou São Paulo mas ajudou a escrever parte de sua história musical. Foi técnico de som da banda Os Mutantes e descobriu e produziu grupos como Ultraje a Rigor, Titãs e Ira!. De 2005 a 2012, dirigiu o Auditório Ibirapuera.
Hoje, aos 65 anos e chefiando o CCSP (Centro Cultural São Paulo), volta suas atenções para as políticas culturais do município. "É preciso pensar em formas de chegar a locais carentes e de fazer com que as coisas importantes permaneçam."
Peu Robles/Folhapress | ||
Pena Schmidt, diretor do Centro Cultural São Paulo |
sãopaulo - Do que você mais gosta em São Paulo? E do que menos gosta?
Pena Schmidt - As duas têm a mesma resposta: as pessoas. Há uma riqueza infinita de pessoas inteligentes, bonitas, especiais, únicas. E a quantidade de gente é fascinante. Ao mesmo tempo, um metrô ou um ônibus lotado não é. Tem hora em que é gente demais. E, se existem pessoas maravilhosas, há muitos chatos também. Faz parte.
Quanto pesa a tarefa de comandar o centro cultural?
Pense em um navio de 400 metros de comprimento que encalhou ao lado da [avenida] 23 de Maio. Para dar um exemplo, o CCSP precisa trocar as lâmpadas [antigas] pelas de LED, mas são 11.200 lâmpadas. Isso aqui é enorme, e eu fico na cabine tentando observar tudo. A chave é ter muita confiança na equipe, que faz tudo funcionar.
Qual é a importância do CCSP?
Ser um lugar ocupado pelas pessoas. Aqui, convivem o morador de rua e o menino de classe média. E um não incomoda o outro. Nosso papel é ajudar no entendimento de que isso também é cultura: exercer sua cidadania. Seja dançando em um lugar público, seja reunindo amigos para ensaiar uma peça.
O sr. escreveu no Twitter que quer uma rádio municipal. Por quê?
Tudo começa no Mário de Andrade, que montou uma discoteca [em 1935] para alimentar a rádio municipal. Nossa discoteca [Oneyda Alvarenga] é a mesma que ele fundou. Além disso, o rádio ainda é essencial para a música. Atrai público. Podemos tocar a música feita hoje para pessoas que estão na cidade. Assim, toda uma geração de 17 a 28 anos poderia se apaixonar pela rádio.