Software com nome de anjo ajuda a expandir 'rodízio de santa' em SP

Todos os dias, às 10h, um ritual religioso discreto é realizado em São Paulo por cerca de 200 mil pessoas. Elas saem de suas casas carregando uma imagem de Maria com seu filho, Jesus, e a entregam a um vizinho, que ficará com ela até o dia seguinte, quando a levará até outra residência.

A Campanha da Mãe Peregrina calcula ter cerca de 7.000 imagens rodando na cidade —cada uma delas visita até 30 casas por mês.

"A iniciativa simboliza a visita da mãe de Deus em cada casa, trazendo bênçãos", conta a irmã Márcia Maria, 35, que vive e trabalha no santuário dedicado à Mãe Peregrina da Vila Clementino, na zona sul. "É preciso abrir a porta para recebê-la. Não pode deixar a santa na guarita do porteiro ou passá-la pela janela."

Além da imagem que circula entre as residências, há modelos especiais. Tem santa para lojas e consultórios médicos, santa para acompanhar a noiva nos dias antes do casamento e até uma bastante específica, cuja finalidade é confortar famílias com um ente querido sequestrado.

A Virgem circula dentro de uma peça de madeira e vidro em formato de casa, que simboliza o santuário de Schoenstatt, na Alemanha, onde tudo começou.

Criada pelo padre alemão José Kentenich (1885-1968) em 1914, a iniciativa foi trazida para São Paulo na década de 1970. Na última década, o movimento cresceu com apoio da tecnologia.

"Vi uma placa com o nome Schoenstatt [na rua] e fiquei curiosa. Então, me inscrevi, passei a receber a imagem e tive uma graça: meu marido se curou completamente de uma doença grave com a ajuda da Mãe", conta Thelma Soutello, 65, dona de casa que mora em Pinheiros.

"Quando entrei no movimento, em 1999, eram poucas unidades: a mesma imagem precisava ir do Morumbi até Perdizes", recorda-se Fátima Bracco, 65, psicóloga e coordenadora da região episcopal Sé, que abrange bairros do centro e das zonas sul e oeste.

Atualmente, Perdizes é uma das regiões que mais participa: suas paróquias somam 137 imagens (42 delas apenas na da Pompeia). Pinheiros, São Mateus e Vila Prudente -os dois últimos na zona leste-, são outros bairros com grande número de membros.

A tecnologia ajudou. Se antes as listas de assinantes da santa se empilhavam em folhas de almaço, hoje ficam salvas num software chamado Gabriel, acessado pela internet. De casa, os coordenadores atualizam os dados dos fiéis e reorganizam os grupos conforme a necessidade. O sistema também ajuda a localizar imagens perdidas.

Certa vez, uma família viajou aos Estados Unidos e esqueceu de devolvê-la. Eles só se lembraram dias depois, e pediram ajuda a parentes para resgatá-la.

Por segurança, a lista com os dados dos participantes não fica mais afixada atrás da imagem.

A organização da campanha envolve ao menos cinco níveis hierárquicos, a maioria ocupados por voluntários. Para melhorar a comunicação entre eles, foram criados vários grupos de WhatsApp envolvendo coordenadores, voluntários e fiéis.

"Vivemos um momento em que as pessoas têm muita necessidade de apoio sobrenatural", diz Fátima. "O papa Francisco reavivou a fé", diz Maria de Cássia Batista, 56, coordenadora da região do Belém e dona de casa.

Agora, o desafio dessas senhoras católicas é atrair mais jovens para a campanha. A estratégia? Saber tudo sobre o mundo digital. Irmã Márcia até já se matriculou em um curso de sistemas de informação. Santa tecnologia.

Mais informações no site da campanha.

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