Quando morreu, aos 96 anos, a avó de Eduardo Mossri deixou um calhamaço de cartas escritas em árabe pelo seu marido, também libanês. Foi a partir desses escritos e de pesquisas sobre a vida dos imigrantes no Brasil que surgiu o monólogo
"Cartas Libanesas", que acaba de reestrear na Livraria da Vila do shopping Pátio Higienópolis.
"Colocamos todas as histórias na voz de um só personagem, esse libanês que vem ao Brasil fugindo da Primeira Guerra para fazer dinheiro e mandar o que conseguir para a mulher e o filho", explica Mossri. Ele se refere a Miguel, o mascate elegante e batalhador que interpreta sob a direção de Marcelo Lazzaratto.
A narrativa poética escrita por José Eduardo Vendramini, indicado como melhor autor aos prêmios Shell e APCA por esta peça, transita o tempo todo entre a alegria e a tristeza. O protagonista passa fome, medo, morre de saudade da família que ficou no Líbano e enfrenta preconceitos, mas também se encanta, vibra com as conquistas e tem esperança.
| Felipe Stucchi/Divulgação | ||
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| Eduardo Mossri em cena da peça "Cartas Libanesas", que reestreia na Livraria da Vila |
"Não consigo ver um drama sem riso ou uma comédia sem lágrima", diz o ator, que recebe a plateia pessoalmente e estabelece uma relação mais próxima logo de início. O artista conta que, por isso, muita gente se sente à vontade para ficar falando com ele durante a sessão.
"Já parei para ouvir piadas, recebi cantadas... E os mais velhos teimam em falar em árabe comigo." Mas ele não fala. "Recebi até convite de casamento arranjado, da mãe para a filha que estava sentada ao lado", conta.
A comunidade libanesa no Brasil, que, segundo estimativas, é maior que a população do próprio Líbano (10 milhões ante 4,5 milhões), comparece em peso, mas a história emociona pessoas de qualquer nacionalidade. "Isso prova que aqui somos todos mestiços, imigrantes e vira-latas."