Quando questionado sobre a experiência de construir a própria casa, o arquiteto Carlos Bratke, 72, deu um longo suspiro: "É difícil, muito difícil...". Uma dificuldade que, segundo ele, passa por questões de técnica e estilo, uma vez que a "liberdade pode levar a coisas muito fantasiosas", mas vai além. "Projetar a própria casa não deveria significar fazer um cartão de visita. Um projeto é o reflexo de um período da nossa vida. Hoje eu não faria nada parecido com o que fiz", afirma.
Mas não teve jeito. O imóvel, erguido no Morumbi (oeste), é, sim, visto como uma espécie de cartão de visitas da obra de Bratke. E não está desprovido de alguma fantasia. Com 500 metros quadrados, a casa é uma espécie de sobrado invertido.
Os quartos ficam embaixo da sala e de parte do jardim, o que ajuda a diminuir os ruídos do tráfego da rua Engenheiro Oscar Americano.
A preocupação com o barulho do trânsito também ajudou a moldar a característica mais marcante e talvez "fantasiosa" da casa: o imponente telhado em duas águas triangulares, com um vão livre de 16 metros. "O fato de ele ser inclinado em relação à rua rebate o som e deixa a casa mais silenciosa", explica Bratke.
Com o desenho do telhado pronto, a maior dificuldade foi criar a estrutura de telhas de metal "ensanduichadas", separadas por cerca de dez centímetros de isopor. Suportada por tesouras invertidas de metal e tirantes de cabos de aço, a cobertura de seis toneladas foi erguida com a ajuda de macacos hidráulicos.
O fato de as quatro suítes ficarem embaixo, e não no segundo andar, como de costume, permitiu que ela fosse razoavelmente leve, sem pilares, transformando a sala num gigantesco vão livre.
A solução acústica funcionou e pouco se ouve do barulho da rua. Somando-se a isso o assoalho rústico, construído com tábuas de demolição que um dia fizeram parte de pontes no litoral paulista, e a vista para o bairro arborizado do Morumbi, dá até para esquecer que estamos em plena cidade de São Paulo.
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