Em um vídeo, um porco corre feliz atrás de sua protetora. No outro, "toma banho" de lama, confortavelmente, até perceber que está sendo filmado e se intimidar.
Quem vê as filmagens que a coordenadora de campanhas da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), Mônica Buava, posta em seu Instagram pode até se esquecer de que, há cerca de 20 dias, o destino destes suínos era outro: o abate.
Cento e dez porcos estavam sendo transportados para Carapicuíba quando a carreta que os levava tombou no Rodoanel. Em tentativas de desvirar o caminhão, os animais se machucaram ainda mais. Alguns não resistiram e morreram no local. Para salvar os demais, ativistas se mobilizaram pelas redes sociais e pediram ajuda.
Parte entrou em contato com o frigorífico responsável pelos porcos, solicitando sua libertação, e outra se dividiu entre o local do acidente e o Santuário Terra dos Bichos, em São Roque —para onde os sobreviventes foram levados, após serem cedidos pelo frigorífico. "Estava indo para o trabalho e um membro da SVB me ligou. Fui para o santuário preparar o espaço para receber os animais que iriam chegar", conta Mônica.
"Não consegui chegar ao local do acidente, por conta do trânsito, e fui direto para o santuário", relata a atriz Júlia Bobrow, que também participou do resgate. "Cheguei lá umas sete da noite e fui embora às quatro da manhã. Os bichos estavam muito assustados."
No local, os porcos —ou melhor, porcas, apelidadas carinhosamente de Marias— receberam atendimento veterinário e alimentação. Hoje, 56 vivem livremente no santuário. Outras nove foram adotadas por uma veterinária (as demais morreram no acidente ou após serem resgatadas). "Recebemos cerca de 20 pessoas interessadas em adotar, mas não é simples assim. As Marias pesam 300 quilos, precisam de espaço", explica Mônica. Os interessados precisam atender aos critérios: ser vegetariano; ter um sítio ou chácara; e arcar com os custos do transporte.
Com a repercussão do caso, os ativistas também lançaram um projeto de crowdfunding para financiar os gastos com os novos habitantes do espaço. O objetivo era reunir R$ 50 mil, mas, com a mobilização, aumentaram o teto para R$ 300 mil. Até o momento, mais de R$ 280 mil já foram arrecadados.
De acordo com Mônica, o dinheiro será usado para a alimentação, despesas com medicamentos e veterinários e para a construção de baias, comedouros, fossas e abrigos para o sol —por terem sido criadas para virar comida, as Marias não tiveram contato com a luz solar e se queimam facilmente. "A pele e o casco delas são sensíveis. Estamos nos adaptando."
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UMA NOVA CHANCE PARA AS MARIAS
Como as porquinhas vivem, atualmente, no Santuário Terra dos Bichos