Cursos on-line para crianças visam reforçar o aprendizado escolar

No mundo conectado, digital e tecnológico de hoje, a interação das crianças com smartphones, tablets e computadores começa cada vez mais cedo e é cada vez mais intensa. Na primeira infância, joguinhos, musiquinhas e desenhos animados acompanham pais e babás na volta da escola, no jantar, durante o banho e na hora de dormir.

Quando chega a idade escolar, Google e Wikipédia são aliados nas dúvidas da lição de casa, substituindo as enciclopédias "Barsa" e "Larousse" de tempos atrás.

Essa relação da molecada com as telinhas tende a se estreitar ainda mais com a multiplicação de cursos on-line voltados ao público infantil, com valores que vão de grátis a até cerca de R$ 400. Tem para todos os gostos. Inglês, informática e até desenho, com o professor Daniel Azulay, famoso na década de 1980 por suas lições em programa de TV.

A maior parte das aulas, contudo, está relacionada às disciplinas do ensino regulamentar, funcionando como reforço ou como uma forma de ajudar as crianças a fixarem conhecimento. Foi por esse segundo motivo que a dona de casa Fabrizzia Campana Barros de Almeida, 36, resolveu incentivar a filha mais velha, Julia, 11, a acessar as aulas virtuais.

Pedro Saad/Folhapress
Julia Campana Barros de Almeida, 11, estuda on-line em casa
Julia Campana Barros de Almeida, 11, estuda on-line em casa

"Ela já gostava de assistir a vídeos no YouTube, que ensinavam bobagens como pintar o cabelo ou fazer objetos de massinha. Então eu resolvi procurar alguma coisa que tivesse conteúdo também", explica Fabrizzia. Julia, que está no sexto ano, aprovou. Está fazendo aulas de matemática, português, história e geografia.

"Agora, quando o professor fala, às vezes eu imagino o vídeo e entendo melhor a explicação", diz.

Casos como esse vêm alimentando o crescimento do setor. Fundado em 2001 e com mais de mil modalidades de cursos on-line, o IPED (Instituto Politécnico de Ensino a Distância) vem investindo na criançada. Há atualmente 14 cursos infantis, a maior parte deles voltada para o reforço ou complementação escolar.

Desde 2008, quando passou a mirar a faixa etária que vai dos 6 aos 11 anos, foram quase 17 mil matrículas. Entre 2014 e 2015, a empresa espera um crescimento de cerca de 30% nesse público.

"A grande vantagem é que a gente apresenta o conteúdo e a criança aprende brincando, com jogos e personagens que interagem, incentivam e contam histórias", explica o fundador do IPED, Fábio Neves, 34. "As crianças sempre gostam de tudo que está no computador e no tablet, então acaba sendo mais atrativo do que a aula normal. Mas a proposta é ser apenas um reforço do ensino presencial", explica o empresário.

Ainda segundo Neves, apesar de o conteúdo ser um só, o desempenho de cada aluno é monitorado pelo sistema. Se, por algum motivo, uma criança não está avançando de acordo com o esperado, um relatório é enviado aos pais.

A nova moda, contudo, está longe de ser unanimidade. Para a professora da faculdade de educação da PUC Neide de Aquino Noffs, aulas em vídeo, mesmo usadas apenas para reforço ou complementação do currículo, não são adequadas às crianças.

"Nessa idade, entre os 6 e os 11 anos, a criança está numa fase de socialização, de autoconhecimento e de conhecimento dos outros", explica a educadora. Ainda segunda ela, a presença do professor é extremamente importante porque apenas ele é capaz de dosar os conteúdos e de sentir o que cada aluno necessita. "O professor lê a criança pelo corpo, pelas ações, pelo jeito de olhar, não só pelo que ela está falando", explica Noffs.

A professora não se opõe ao uso de computador e da internet, mas afirma que é melhor deixar que os pequenos busquem o conhecimento por conta própria, ainda que sob a supervisão de um adulto.

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