Marchand se 'veste de periferia' para caçar novos talentos em São Paulo

Quando morou em Londres de 2000 a 2012, João Correia, 38, ficou de olho em Stik, grafiteiro conhecido por suas figuras brancas compridas com braços e pernas em formato palitinho. "Ele desenhava em tapumes de obras. Recomendava a conhecidos que recolhessem os pedaços antes de virarem lixo", conta o marchand (negociante de obras de arte). Comercializou uma peça dele de 50 cm por 80 cm por £ 3.000 (R$ 17,3 mil).

Ver essa mágica da transformação do valor de uma peça é um dos prazeres do paulistano que cobra até R$ 600 por hora de consultoria. O seu retorno financeiro representa, em média, 10% do valor da compra
feita pelo cliente —que pode atingir R$ 60 mil, por exemplo.

Há 22 anos no mercado de arte, João frequenta bienais, museus e galerias ao redor do mundo para garimpar. Mas é a rua um dos seus maiores campos para caçar talentos.

Além de considerar o recente boom da street art, ele elenca apelo emocional, discurso e diferencial estético como indicadores de sucesso.

De volta a São Paulo há três anos, João tem se interessado pela cena da periferia, principalmente a pichação, que considera uma manifestação cultural brasileira autêntica. Alia o diferencial ao contexto político, que tem colocado uma arte ativista em pauta. "Por que a Bienal de Berlim está interessada na pichação e aqui esse tipo de expressão é visto como sujeira?", indaga.

Ao menos uma vez por semana, ele bate perna por quebradas de São Paulo, como Jardim Jangadeiro e Paraisópolis. "Tiro a fantasia de marchand e me visto de periferia", diz em seu apartamento no Itaim. Isso significa substituir o jeans de marca, a camisa e o mocassim por moletom, camiseta de rap e tênis batido.

Ele, que vê o próprio trabalho como uma "caça armada", se mune de um questionário: a obra é relevante? Representa o nosso tempo? O artista se arrisca de alguma maneira?

O pichador Cripta Djan —do grupo que invadiu a Bienal de São Paulo em 2010—, passou pelo crivo. João conheceu o artista de Osasco em 2012. "A obra dele não tinha valor. Era inclusive depreciada, vista como vandalismo", conta. A aposta na identidade visual elaborada e no discurso rendeu. Hoje, chegam a pagar € 4.500 (cerca de R$ 18,4 mil), além do frete, por uma peça de Djan. "Há fila de espera", fala orgulhoso.

Para João, a construção dessa "estética do picho" tem a ver com educar o público. "O meu trabalho é apresentar a arte de uma forma diferente, tirá-la de um contexto e levar para outro, sofisticado."

A investigação desse cenário também será abordada no documentário "Como Nasce um Artista", que João está produzindo enquanto coordena um grupo de discussão de arte contemporânea e dá palestras sobre arte e negócios. "[Ao tomar essas iniciativas] Eu me vejo como um marchand e um 'problem solver'", conclui.

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ENTÃO É NATAL

A tradicional árvore de Natal em frente ao parque Ibirapuera (zona sul) já começou a ser montada. Por enquanto, a SPTuris mantém em segredo tanto detalhes da estrutura, por exemplo, a altura, como de quem pagará a conta. Uma comissão ainda analisa como será a decoração em outros pontos da capital paulista.

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MULHERES NA DIREÇÃO
Ex-atleta de três modalidades (ginástica artística, aeróbica e trampolim), Ana Paula Adami é a nova diretora-executiva de alto rendimento do Esporte Clube Pinheiros. A educadora física, que também preside o Instituto Vida Ideal —formador de atletas de baixa renda—, é a primeira mulher a assumir o cargo em 116 anos.

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LEITURA EM CENA

Grátis, o ciclo de leituras dramáticas criado pela atriz Maria Fernanda Cândido na Casa do Saber segue em 2016. A partir de janeiro, sempre no último sábado do mês, atores serão dirigidos por nomes como Elias Andreato. Na última sessão de 2015 (28/11), o texto "Trótksi no Exílio", de Peter Weiss, é conduzido por Oswaldo Mendes.

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QUALQUER NÚMERO

2.000 quilos de alimentos, em média, são descartados nos três dias principais do GP Brasil de F-1, segundo Cláudia Troncoso, 53. Ela é coordenadora da Associação Brasileira de Redistribuição de Excedentes, que liga o evento a até 35 entidades beneficiárias. A maior parte dos restos são frutas, pães, bolos e congelados, e o total que os três voluntários carregam sofre variáveis: "se fizer frio, sobra mais água e refrigerante; se o melhor brasileiro deixar da prova, o público sai e resta mais comida", diz Cláudia. A entidade planeja lançar um aplicativo de doações em 2016. Saiba mais em www.abre-excedente.org.br.

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