Diretor do GP Brasil é campeão de tiro e não liga para quem chegar primeiro

Lá fora, o ronco dos motores compete com sons frenéticos de mecânicos e torcedores no autódromo José Carlos Pace, em Interlagos, que recebe no domingo (15), a partir das 14h, a penúltima etapa do Mundial de F-1. Mas nada desconcentra Flávio Perillo, 57, diretor de provas do GP desde 2014.

Em uma sala ampla e escura, cercado de técnicos e dezenas de televisores, ele confere os 4.309 metros de pista. Cada centímetro dela: na terça de manhã, percorreu o circuito três vezes a pé para checar sinalizações como a da entrada dos boxes, perto de onde os pilotos passam a 300 km/h.

Consultado pelo diretor de corrida da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), Charlie Whiting, é Perillo quem toma decisões. "Por exemplo: se há um acidente", diz, "paramos a prova ou basta o safety car?".

Felipe Gabriel/Projetor/Folhapress
Flávio Perillo, diretor de prova do GP Brasil de F-1 desde 2014, na sala de controle no Autódromo de Interlagos
Flávio Perillo, diretor de prova do GP Brasil de F-1 desde 2014, na sala de controle no Autódromo de Interlagos

Na semana do GP, ele se muda para um hotel perto do circuito, onde das 7h às 23h lidera 240 pessoas. A paixão nasceu aos 15 anos: "Um professor me trouxe e mudou minha vida", diz, citando Rubens Antonio Carpinelli, hoje presidente da Federação Paulista de Automobilismo.

O palmeirense nascido na Pompeia logo começou a preparar seus carros. O primeiro foi um Volkswagen Variant, ano 1972. Hoje, ele dirige uma Saveiro "toda mexida" e por vezes se arrisca no kart.

Antes de suceder Carlos Montagner, diretor de prova da F-1 no Brasil por 19 anos e hoje supervisor-geral do GP, fez de tudo: bandeirinha, resgate, segurança, chefe de box e de pista.

Os requisitos? "Amar o automobilismo, não se importar com chuva e sol e ser chato." Leia-se meticuloso, ao encontro das aptidões em outro esporte: em 1996, Perillo foi campeão mundial de tiro prático -soma quatro títulos brasileiros e oito paulistas.

Menos famosa que o tiro olímpico, a modalidade usa munição mais forte: "Ganha o mais rápido e com disparo mais preciso e potente", ele explica.

Quem vence a corrida, por outro lado, pouco importa: "A gente não presta atenção, a preocupação é a segurança dos pilotos". Perillo e equipe simulam resgates e incêndios desde agosto e recebem reforço de 250 voluntários —interessados devem escrever para ele.

Sério, ele se alegra ao citar a carreira de atirador, ao lembrar a primeira vitória ali de Ayrton Senna (1960-1994), em 1991, e ao apontar as qualidades de Interlagos: "O relevo desafiador e a largura boa para ultrapassar. Como se diz", sorri, "uma pista que separa homens e meninos".

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