ANÁLISE: Cacheados estão na moda, mas é preciso olhar mais a fundo

Eles estão na passarela, nos editoriais de revistas e nas campanhas das grifes de luxo. Mas, diferentemente da febre do permanente nos anos 1980, que deixou todas as mulheres de cabelo em pé, os cacheados, ondulados e crespos de agora têm a ver com a máxima do "tudo liberado" que a indústria da costura vem colocando na cabeça da clientela.

Na nova campanha da Chanel, a modelo sensação Mica Arganaraz, da Argentina, exibe seus cacheados ao lado dos fios crespos da dominicana Lineisy Montero. Nos desfiles da Victoria's Secret e de Diane von Furstenberg, a angolana Maria Borges assumiu a cabeleira enriçada depois de anos alisando os fios com química.

O Brasil não fica de fora. A capixaba Ari Westphal, neotop que está em Paris para uma maratona de desfiles da temporada de inverno 2017, divide as atenções com russas, holandesas e dinamarquesas alçadas à ribalta. O valioso cabelo cacheado de Westphal, dizem, foi fruto de um erro de corte.

Divulgação
A modelo Ari Westphal, que ganhou destaque com os cabelos curtos e cacheados
A modelo Ari Westphal, que ganhou destaque com os cabelos curtos e cacheados

Estilistas e crítica especializada decidiram que não vale mais a pena definir ritos de ordem dentro do conceito de beleza. A imagem a ser impressa é a de que a ditadura fashion, aquela chuva de certos e errados de outrora, datou.

Mas é preciso olhar dentro de uma grossa camada de maquiagem pois, no meio da feira de vaidades que custa milhões em investimentos, nada é tão natural quanto parece. Essa abertura da indústria aos cabelos não-lisos parece estar mais ligada a uma cobrança dos movimentos sociais, das agências especializadas na beleza negra e, principalmente, dos mercados em que estão essas marcas, do que a uma consciência inclusiva.

Na França, berço da moda ocidental, e nos EUA, os negros são parcela considerável dos consumidores. Incluí-los hoje é tão importante quanto os asiáticos nos últimos seis anos, quando pipocaram desfiles estampados com rostos orientais.

Modelos como a chinesa Liu Wen entraram no ranking das tops mais bem pagas do mundo, ao mesmo tempo em que China, Japão, Coréia do Sul e Filipinas passaram a responder por quase 40% do faturamento das grifes.

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