Galeria Luciana Brito muda para casa nos Jardins projetada por Rino Levi

Ser galerista não estava nos planos de Luciana Brito. Quando ingressou no curso de artes visuais da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), a ideia era ser artista plástica. "Comecei a trabalhar bem jovem em uma galeria [Raquel Arnaud] porque queria entender como era o mercado de arte", conta. E aprendeu.

Em 1997, criou a galeria Brito Cimino ao lado de Fábio Cimino, e hoje comanda um espaço com seu nome que, a partir do próximo domingo (3), parte para uma nova etapa.

Há 15 anos instalada na Vila Olímpia, a Galeria Luciana Brito irá funcionar na Residência Castor Delgado Perez, no Jardim Paulista. Tombada como patrimônio cultural, a casa é um projeto de 1958 do arquiteto Rino Levi —o paisagismo é de Burle Marx.

"Ficamos entusiasmadas em recuperar um espaço histórico da cidade e transformá-lo em galeria de arte", diz Luciana. O plural é em referência a sua filha, Julia Brito, 24, que há dois anos ajuda a mãe a tocar o negócio. "Parte da mudança de local tem relação com o nosso trabalho juntas", afirma.

Para a estreia, a galeria prepara a coletiva "Residência Moderna", com obras de Caio Reisewitz, Regina Silveira, Rochelle Costi e Tiago Tebet. Os artistas acompanharam a revitalização da casa e criaram obras e intervenções que dialogam com ela.

Luciana Brito Galeria. Av. Nove de Julho, 5.162, Jardim Paulista, região oeste, tel. 3842-0634. Ter. a sex.: 10h às 19h. Sáb.: 11h às 18h. Abertura: 3/4, 11h às 19h. Até 21/5. Livre. GRÁTIS

sãopaulo - Por que a mudança de endereço?
Luciana Brito - A galeria está há 15 anos na Vila Olímpia e já fazia certo tempo que queria mudar do bairro para ficar mais próxima dos Jardins, onde há outras galerias [Marília Razuk e Nara Roesler, por exemplo].

A proximidade é interessante para a galeria?
Sim, por facilitar o circuito do visitante. E aqui na Vila Olímpia, por exemplo, tem muito trânsito. O novo endereço é bem mais acessível.

Como foi a escolha do novo imóvel?
Há dois anos comecei a pensar para que tipo de espaço gostaria de ir. Até que encontrei essa casa modernista de 1958, a Residência Castor Delgado Perez, que é histórica. Iniciamos um processo de recuperação [o projeto é do escritório de arquitetura Piratininga] e começamos a pensar em como usar esse espaço como galeria de arte. Ficamos entusiasmados porque estamos mudando o conceito de cubo branco. Agora não será mais uma arquitetura neutra. Acho um projeto arrojado neste sentido, pois as galerias geralmente buscam lugares mais neutros.

E o que muda nessa nova fase?
Não sei se é uma nova fase, mas acho que é uma reflexão sobre o espaço expositivo, sobre ser uma galeria brasileira, em São Paulo. Não me sentia muito estimulada a repetir a fórmula de mais uma galeria cubo branco. Quando pensei em procurar essa casa queria criar um pouco de provocação para mim e para os artistas, que terão de dialogar com essa arquitetura e com o jardim.

E qual seria o papel de uma galeria de arte hoje?
A galeria é um polo cultural de difusão de ideias. Esse novo passo de fazer uma galeria dentro de uma casa, por exemplo, é uma demonstração de que ela precisa estar sempre mudando, buscando novos caminhos para a cultura, para a arte e para o pensamento.

Ela tem estigma de, no geral, ser vista só como ponto de venda?
A galeria é o oposto disso. É um local dinâmico, que tem um vínculo forte com artistas de várias linguagens, gerações e nacionalidades. É uma plataforma de encontro de pensamentos diferentes. Galeria não tem nada de ponto de venda, é um local de descoberta. Ela também funciona como um banco de dados, um "centrinho cultural" dos artistas que representa, já que reúne todas as informações sobre eles.

Como costuma escolher os artistas que representa?
É bem variado e imprevisível. Ficamos pesquisando o tempo todo.

E você está pesquisando novidades?
Fiquei muito envolvida com a mudança, pensando nesse novo espaço. A galeria continuará com os mesmos artistas com quem já trabalha [são 28, entre eles Eder Santos, Marina Abramovic e Caio Reisewitz].

Nesses 15 anos na Vila Olímpia você deve ter tido muitos momentos marcantes, não?
Acabamos de fazer uma exposição chamada "15", uma retrospectiva que encerrou este espaço. Deu para nos darmos conta de todo o trabalho feito nesses anos. Foram mais de 75 exposições.

Como o mercado de arte está se adaptando a esses tempos de crise?
Já passei por vários momentos de crise e a gente sempre sobreviveu. Não é um momento ruim. Acho que sempre tem gente interessada em arte. É muito legal trabalhar com isso pela possibilidade de aprender o tempo todo, de estar em contato com pessoas cultas, com artistas, com colecionadores. Não tem rotina. Eu sempre falo que trabalhar com arte é o melhor emprego do mundo.

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