Em plena crise, leilão de bolsas na Oscar Freire tem lances de R$ 11 mil

Terça-feira, 21h. Todas as lojas caras da Oscar Freire já estão fechadas e a rua está quieta. A exceção é o número 246, onde três pessoas disputam uma bolsa Chanel preta levantando freneticamente suas plaquinhas amarelas, com números escritos.

Os modelos pretos, em matelassê, da marca francesa, são os mais disputados. O alvoroço quando surgem na tela só não é maior do que o brinde "à prisão do Lula", feito pelo apresentador, com um copo de água após cantar mais de vinte lotes.

Pela quarta vez, Patrícia Rollo e Maria Angélica Izar de Almeida Prado organizam o leilão de bolsas de grifes. Ali, bolsas Chanel, Prada, Pucci, Valentino e Louis Vuitton são vendidas por menos de mil reais cada. Todas são originais, porém usadas. Cerca de 30 pessoas foram ao primeiro leilão de bolsas do ano (ao todo são três). Angélica disse que ainda não sentiu os impactos da crise nas vendas.

De acordo com os dados da empresa de consultoria estratégica Euromonitor, o mercado de luxo brasileiro não está imune aos problemas econômicos do país. Exemplo disso foi o fechamento das lojas da Kate Spade, marca queridinha pelos jovens endinheirados, no final de 2015.

No sobrado da Oscar Freire, as grifes não correm riscos. Elas podem ser vistas no monitor do leilão (as peças não ficam à mostra) e sentidas no ar. Após muitos cumprimentos, dá para sentir (até na própria roupa) o misto de perfumes importados. Bolsas Prada, Louis Vuitton, Gucci e Chanel repousam nos colos de suas donas.

Usando um mocassim Gucci e óculos de armação laranja, o empresário Walsen Alba, 59, é veterano em leilões. Estava lá para comprar presentes para a namorada, mãe e nora. Ele disputou várias peças, mas acabou levando apenas uma Pucci, por R$ 1.700,00. "Leilão é um jogo. Precisa ter calma, [o preço deixa de valer a pena] se começar a disputar quem dá mais. Amanhã, eu ligo e vejo quais peças sobraram e muitas delas são vendidas pelo preço inicial", diz, enquanto dá uma piscadinha.

As bolsas vendidas no leilão são mais baratas do que as encontradas em brechós e em sites de venda de usados na internet. Antes do dia do leilão, as peças ficam expostas para que os potenciais compradores possam ver e tocá-las. "Muitas bolsas que estavam descritas como razoável, na verdade estavam em ótimo estado quando eu vim ver", explica Ana Garcia, 29.

Ela e o marido Rodrigo, 32, pesquisaram o valor das peças usadas antes de ir para o leilão. "Colocamos uma meta de preço em cada uma das que eu gostei", explica Ana, com um mega sorriso no rosto. Ela arrematou três bolsas – uma Fendi, uma Prada e uma Burberry (um presente para a sogra). "Imagine, R$ 400 em uma Fendi!", diz, animada.

Um empresário do setor imobiliário e de construção levou mais de dez peças. Todas para presentear a mulher e a filha. Além de malas de viagem da Louis Vuitton e bolsas da Balenciaga, o destaque foi a Chanel Supermodel, um modelo vintage e raro, que saiu por quase R$ 8 mil. Ele prefere não revelar o nome.

Assim como o empresário, um casal de jovens também pediu para não ser identificado temendo a violência. Com um cachorrinho branco no colo, eles chamavam atenção pela aparência quase púbere e pelos lances insistentes. Levaram cinco peças, num total de R$ 17 mil.

"Comprei duas Chanel e duas Balenciaga. Ele comprou uma Chanel para a irmã. Vale muito a pena comprar aqui se comparado com a loja", disse, entre risos nervosos, a moça de 22 anos, temendo parecer muito fútil. "É que eu gosto muito de moda", explicou-se sem mesmo ser questionada.

Magra, loira, lenço amarrado no pescoço e bolsinha Gucci transpassada, Maria Amália Oliveira, 61, conta que "se deu de presente" sua primeira Chanel quando fez 40 anos. No leilão, ela mais vendeu do que comprou. "Com a idade a gente passa a não querer mais guardar um monte de coisa."

"As francesas tem uma bolsa boa para durar a vida toda. Essa coisa de comprar várias é aqui no Brasil. E lá, as bolsas velhas são mais valorizadas. A graça da Louis Vuitton é quando o couro já mudou de cor por conta do uso", diz. Ela ainda conta que esse tipo de leilão é comum fora do Brasil. "Tenho amigas lá de fora que compram, usam e, quando enjoam, revendem para comprar uma nova".

QUEM VENDE?

No leilão da Oscar Freire, as donas das bolsas entregam suas peças para serem avaliadas e precificadas pela empresa Dedalo Leilões. "Assusta, por que começamos com um preço muito baixo, mas ele sobe. E quanto mais baixo começar, maior são as chances de aumentar", explica Maria Angélica Izar, uma das organizadoras do evento.

As peças que não foram vendidas no leilão de março voltarão nos próximos eventos. "O valor pode cair ainda mais", afirma Angélica. Em 2015, foram feitos três leilões e o ritmo deve ser o mesmo neste ano.

No final, os clientes receberam bem casados e chocolatinhos em forma da bolsa Kelly, da Hermès. O exemplar de couro estava a venda pelo lance inicial de R$ 29 mil. "É uma bolsa tipo viagem rara e feita sob medida, não tem na loja. Uma nova sai por R$ 80 mil", diz Angélica. A peça não fez o mesmo sucesso que os docinhos: não recebeu nenhum lance.

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