Jogos surrealistas e obra de Julio Cortázar inspiram exposição

Partindo do livro "O Jogo da Amarelinha" (1963), de Julio Cortázar, e dos jogos surrealistas "Cadavre Exquis" (cadáver esquisito, em português), Bernardo José de Souza criou a mostra "Unânime Noite", em cartaz na Galeria Bolsa de Arte.

A ideia é que cada uma das 30 obras expostas —a maioria são esculturas e objetos— funcione como pista para a construção de uma narrativa ficcional. Dispostas como se fossem obstáculos, elas ocupam os dois espaços expositivos da galeria, além do banheiro, do café e do jardim.

"São quase como tropeços que, de certa forma, reproduzem a lógica da surpresa —e até a da vida", diz Souza.

O trabalho detonador desse jogo é um texto do escritor e curador lituano Raimundas Malasauskas. "Há nele uma carga de ficção, mistério e ensaio existencial", diz o curador. A gravação do texto, que pode ser ouvida na mostra, foi enviada para os artistas, que propuseram diálogos a partir de obras inéditas ou já existentes.

É o caso de "Com Palavras de Palavras por Palavras, Palabras" (2008), instalação de Marilá Dardot composta de uma mesa e uma máquina de escrever. Também há trabalhos de Rodolpho Parigi, Erika Verzutti e Cristiano Lenhardt, entre outros.

Galeria Bolsa de Arte. R. Mourato Coelho, 790, Pinheiros, região oeste, tel. 3097-9673. Seg. a sex.: 10h às 19h. Sáb.: 11h às 16h. Dia 26: fechado. Até 2/7. Livre. GRÁTIS

PAPO DE CURADOR
Bernardo José de Souza, 41, fala sobre a exposição "Unânime Noite"

A mostra pretende ser um "romance-exposição". Como seria isso?
Esse projeto parte da construção de uma narrativa em que cada obra seja um capítulo dentro de uma história não linear. Ela será articulada não apenas pela minha lógica de compreensão enquanto curador, mas pela própria leitura do público. A exposição tenciona essa noção de autoria do curador como um senhor do discurso, já que estou propondo e articulando um jogo, mas há um certo grau de descontrole.

E qual seria a temática presente nesta história?
Queria que se construísse uma narrativa de ficção científica e de mistério que também remetesse a um outro escritor argentino além do Cortázar, que é o Jorge Luis Borges. Ele pensa, justamente, esses dois gêneros literários. O texto de Raimundas Malasauskas abre portas para pensar em uma diversidade de mundos interiores que carregamos durante a vida.

Como são as obras selecionadas?
Cada uma delas é um mundo próprio, mas também um universo que se relaciona com outros. Há uma recorrência de imagens, como a do triângulo, que é uma forma mística. A maioria delas são esculturas e objetos, embora também haja vídeos e pinturas.

O que é essa atmosfera noturna insinuada pelo nome da mostra?
Há uma referência nas obras dessas qualidades noturna do sono e do sonho -de um acesso, portanto, ao inconsciente. A própria narrativa inicial é bastante noturna no sentido de ser quase um delírio. O nome também é uma referência a um conto do Borges, chamado "As Ruínas Circulares", no qual ele conta a história de um homem que avança em uma "unânime noite".

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