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Fundada por ex-caixeiro viajante, Kalunga é destaque em São Paulo

No número 576 da rua Bartolomeu Gusmão, na Vila Mariana (zona sul), foi inaugurada uma acanhada papelaria em 1972. Com a loja, Damião Garcia, empresário do ramo gráfico vindo de Bauru, tinha como objetivo deixar um bom negócio para os seis filhos -Mário, Paulo, Allison, Luiz Fernando, José Roberto e Damião Jr.

Naquela época, já se lia "Kalunga" na fachada do estabelecimento. "Era o nome do poodle de um amigo do meu pai, o doutor Murilo. O significado, segundo ele, era 'tudo de bom' e vinha de um dialeto banto africano. Foi daí que surgiu a ideia", explica Paulo Garcia, sócio da Kalunga e filho do "seu" Damião, morto há um mês, no último dia 22 de abril, aos 85 anos.

Um galpão com caixas e paletes de madeira: assim começou a primeira unidade da marca. "Era um depósito que, por acaso, tinha uma loja dentro. Se a gente for comparar, hoje elas são quase uma butique", brinca o empresário. Modernas, as 147 lojas da rede seguem um padrão de formatação e são revitalizadas de tempos em tempos para abrigar os mais de 12 mil produtos em linha, de cadernos a pó de café.

A papelaria tem maior expressividade nas regiões norte e central da cidade, ambas com 39% das citações, segundo o Datafolha. Entre os entrevistados de 26 a 40 anos, o percentual salta para 42%, de acordo com o instituto. "Temos dois tipos de consumidores: a pessoa jurídica, 45% das notas fiscais emitidas, com os suplementos para escritório, e a pessoa física, 55% das vendas, que é mais presente durante as voltas às aulas", explica Hoslei Pimenta, diretor comercial da Kalunga. "Podemos dizer que janeiro e fevereiro são o nosso Natal", afirma.

Apesar de representar 55% do total de vendas, o varejo não era o foco da marca quando ela surgiu. "Começamos como atacadista, mas tinha um pouco de varejo. Era uma espécie de 'atacarejo'", lembra Paulo. "Percebemos que alguns pais se juntavam para comprar pacotes de caderno para os filhos. Foi aí que começamos a mudar."

Em 2015, a empresa teve um faturamento de R$ 1,9 bilhão e prevê que neste ano ultrapasse os R$ 2,1 bilhões. "Estamos sentindo pouco a crise, embora a gente pudesse estar crescendo mais", diz Hoslei, que revela que o objetivo é abrir mais 17 lojas no Brasil até dezembro -ainda não se sabe o número de unidades em São Paulo.

O pequeno negócio do "seu" Damião cresceu, mas não perdeu a sua essência. "Bom atendimento, praticidade, rapidez e um bom mix de produtos. O consumidor quer que a compra seja simples. E é isso que oferecemos", defende Hoslei. Mesmo afastado dos negócios, o patriarca da família Garcia acompanhou com orgulho, até o fim, a continuidade de seu trabalho nas mãos de dois filhos, Paulo e Roberto. "Ele viu que o que batalhou para criar não foi em vão. E, como o próprio nome diz, é Kalunga, tudo de bom", complementa Paulo.

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Para saber +

*Fundação: 1972, na Vila Mariana
*Funcionários: 3.300
*Unidades: 147 lojas (44 na capital)
*kalunga.com.br

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Paulo Garcia, sócio da Kalunga

Quando criou a Kalunga, quais eram os planos de seu pai?
Seu Damião já sonhava que seria uma grande rede. Ele sempre teve um olhar empreendedor. Em 1966, deixou tudo em Bauru e veio com a família toda para São Paulo para abrir o próprio negócio. A sua preocupação era que os filhos tivessem algo para trabalhar e não depender de terceiros. E ele foi bem-sucedido nisso porque conseguia enxergar as oportunidades e nunca teve medo de investir.

Como era a rotina de trabalho ao lado de "seu" Damião?
Cada filho tinha uma função: do administrativo ao executivo. A gente começava a trabalhar lá pelos 11 e 12 anos, em paralelo com os estudos. Meu pai sempre foi muito democrático: quando a gente completava 16 anos, ele nos emancipava e dava participação de lucros, mas duas coisas eram lei: almoçar juntos todos os dias e assistir ao jogo do Corinthians.

Foi esse amor de torcedor que fez a Kalunga patrocinar o Corinthians de 1985 a 1994?
Não era nada comercial. Foi mais pela paixão. Inclusive, ele era conselheiro vitalício do time. À época, a gente não tinha uma grande rede de lojas, e muita gente achava que vendíamos artigos esportivos. Eu me lembro que quando o Corinthians ganhava, algumas lojas amanheciam pichadas. Vinha até bilhete com "vai vender pra corintiano". Quando você mexe muito com a emoção, acaba perdendo a razão. Mas, é claro, isso foi superado com o passar dos anos.

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