Toda vez que um migrante de Florianópolis chega de mala e cuia para tentar a vida em São Paulo, ele recebe uma recepção calorosa, sempre seguida de uma pergunta atroz: "Que diabos você está fazendo aqui?". Perdi a conta de quantas vezes ouvi alguém indagar, com todos os clichês, como eu tive a pachorra de me mudar da ilha da magia para a terra da garoa?
A pergunta não assusta. Todo "manezinho" que se preza sabe que há tempos os paulistanos, assim como os argentinos, são caidinhos por Floripa. É difícil não ser. São 42 praias absurdas (ou cem, dependendo de quem faz a contagem), onde você se refestela de comer peixe e frutos (recém-saídos) do mar. As pessoas são educadas, falam daquele jeito fofo, meio "portuga", resquício da colonização açoriana, e param o carro até para o cachorro atravessar a rua.
Floripa mudou muito recentemente. Se "gourmetizou" um tanto e ganhou atrações de "cidade grande" para agradar moradores um pouco mais cosmopolitas: agora tem costelaria (como a Ponta D'Agulha), gelateria (Max), doçaria (Patricia Goedert), mercado de orgânicos (São Jorge) e wine-bar (La Cave Bar). Ganhou trânsito também.
Mas não perdeu o charme de cidade pequena e praiana: as ostras continuam uma pechincha no Santo Antônio (com um isopor, você traz um carregamento pra São Paulo), as rendeiras seguem com seus bilros na Lagoa, e os pescadores com as tarrafas no Pântano do Sul. O transporte público segue terrível, e o atendimento, beeem devagar.
Tudo isso só se preserva porque Floripa tem um defeito que acaba sendo sua maior qualidade: o inverno -essa coisa que o povo do Rio ou da Bahia desconhece. Se ainda não foi completamente invadida por forasteiros que sonham com a vida idílica numa ilha paradisíaca, é porque esse sonho normalmente não combina com uma "friaca" e com uma japona horrorosa que te proteja do danado e gelado vento "suli".
Tem gente que vai de mudança pra Floripa, chega feliz no verão, bate no inverno (e na impossibilidade de praia+calor+banho de mar) e volta em direção ao norte, em busca da ilusão do verão eterno.
Floripa é para os sonhadores, mas também para os fortes. É para aqueles que apreciam as mudanças de estação, para quem sabe e aceita que até o paraíso tem seus defeitos.
E é também para aqueles que preferem morar em São Paulo. Mas pegam a malinha e a cuia e vão passar o fim de semana, o feriado ou as férias sempre que dá. E, por Floripa, sempre dá.
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Nem tanto ao mar
1. QUANDO IR
Se não gosta de trânsito, fuja de Floripa em feriadão ou no verão. Se frio não é a sua praia, desista de ir durante o inverno. Não gosta de nenhum dos dois? Aposte na meia estação, como março ou novembro. O veranico de maio, quando vem, também é uma delícia
2. FOCO
Escolha entre tantas a praia ou a região da ilha de sua preferência (norte, leste ou sul) e se hospede por lá mesmo, pra se locomover só quando for indispensável
3. SAIA CEDO
Quer conhecer novas praias sem pegar trânsito? Saia antes das 9h e volte na hora do almoço. Se estiver vindo da área norte, aproveite para almoçar nos deliciosos restaurantes de Santo Antônio e Sambaqui
4. PEÇA CARONAS
Pode parecer estranho, mas em Floripa dar e receber carona é normal. Evite pegar quando estiver só
5. PEDAL
Já que o acesso às praias muitas vezes se dá por morros íngremes ou estradas longas, é melhor evitar a bike se não for muito experiente
6. A MELHOR PRAIA
Para conhecer a praia mais bonita do Brasil (na minha humilde, mas bem viajada opinião), separe um dia inteiro, um bom tênis, água e comida para uma caminhada até a Lagoinha do Leste, no sul da ilha
7. CHOVEU?
Comer no Mercado Público, passear no centro histórico, sentar num dos cafés da Lagoa ou pegar um cineminha são algumas das opções
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