Não acredito em casas minimalistas, diz arquiteto André Vainer

Como quem monta quebra-cabeças, André Vainer, 61, começou a fazer luminárias cortando tubos de PVC e usando conduítes e peças de ar-condicionado, no final dos anos 1970. Desafiado pela vontade de simplificar encaixes e baratear custos, continuou a fazê-las e passou a colocá-las em seus projetos residenciais. Os acabamentos, em tinta automotiva, inspiraram os nomes das primeiras: Fusquinha e Mercedinha.

Apesar de nunca ter pensado em ganhar dinheiro com essa produção, nos anos 1980, lojas que vendiam design brasileiro, como a Interdesign e a Nanni Movelaria, comercializaram suas peças. De lá para cá, algumas saíram de linha e outras chegaram à coleção, como a Bbzinha, de 2015, toda furada "para as crianças ficarem imaginando coisas a partir das sombras", afirma. A brincadeira de fazer luminárias, que já dura mais de 40 anos, ganhou uma mostra na Marcenaria Baraúna, até final de julho.

"Não tenho impulso de desenhar objetos como tenho de fazer arquitetura", diz Vainer. Por isso, diz, a ideia de ter componentes já prontos. O uso de peças industrializadas, baratas, sem qualquer traço autoral, serve a um princípio de projeto fundamental para Vainer: "Não quero fazer objeto de culto."

O mesmo ideário está em sua arquitetura racional e seus projetos de cenografia. "Detesto o que não se consegue identificar", diz. "Acredito que o projeto deve ser simples no tratamento do espaço. Não ter subterfúgios ou mecanismos que o tornem mais sedutor. Ter, sim, uma certa obviedade."

Vainer se formou pela FAU-USP em 1980 e antes de concluir o curso já estava trabalhando. Entre 1977 e 1986 esteve na equipe de Lina Bo Bardi (1959-1992) para o projeto do Sesc Pompeia. Também antes do diploma, começou a trabalhar com Guilherme Paoliello, parceria que durou de 1978 a 2009, e rendeu mais de 200 projetos.

"Nunca tivemos preconceito com o trabalho. Reformas, projetos de lojas, de indústrias, fizemos tudo. E assim fomos ganhando traquejo, capacidade de improvisação", completa. E prêmios. Entre eles ao menos três do Instituto dos Arquitetos do Brasil (2000, 2002 e 2004) e quatro em Bienais Internacionais de Arquitetura de São Paulo.

"Tive uma formação de esquerda que influencia meu trabalho. Para mim, arquitetura é o primeiro abrigo para o homem, o espaço de conforto mental, emocional, o lugar de resguardo, da memória. Não acredito nas casas minimalistas em que as pessoas não mostram as coisas que fazem parte de suas vidas".

Sua arquitetura, diz, "não tem compromisso com modelos formais". "Tenho casas de madeira, tijolo e técnicas de todo tipo", diz. "Tem arquiteto que não faz telhado. Eu amo um telhado. Acho sensacional. Adoro os engenheiros, converso com eles, especulo. Não tenho essa ideia do iluminado. Apenas tenho capacidade de usar o espaço".

Nos últimos anos, além de casas confortáveis e "relaxadas", que priorizam o convívio, fez estúdios e ateliês, e restaurantes como o Ritz e o Spot JK. São seus os projetos de mostras como A arquitetura Política de Lina Bo Bardi (Sesc Pompeia, 2014) entre muitos outros.

Enquanto acompanha a construção de escolas e centros de lazer, um de seus grandes projetos, a reestruturação do MAM-BA (Museu de Arte Moderna da Bahia), concebido originalmente por Lina, segue "a passos lentos, mas segue", há sete anos.

Dando aulas na Escola da Cidade, ele toca com três arquitetos o escritório que leva seu nome. "Construímos os trabalhos juntos. Ele opinam em tudo. Claro que tem aquele centralismo democrático: no final, eu decido", brinca.

Publicidade
Publicidade