Museu do Futebol faz campanha para reunir imagens antigas do Pacaembu

A chef Maria Lúcia Ramalho, 76, conta, como se fosse ontem, sobre o dia em que foi a um encontro de Romi-Isettas na praça Charles Miller, em 1958. "Tinha 17 anos e tirei uma foto lá com meu noivo, Jairo. Ele tinha uma Romi amarela, que nem precisava buzinar quando chegava.

Ouvia o motor de longe", recorda, sobre o primeiro modelo de carro fabricado no Brasil. Os dois viveram juntos até a morte de Jairo, em 1999.

A foto é uma das mais de 140 imagens reunidas pelo Museu do Futebol, que iniciou em abril uma campanha para colher registros antigos do bairro mantidos em acervos de outras instituições ou por moradores.

A iniciativa marca os 25 anos do tombamento do bairro do Pacaembu -a medida protege o desenho de ruas sinuosas e arborizadas, com imóveis baixos e pouco comércio. Antes pouco habitada, a região foi loteada a partir da década de 1920, mas ganhou moradores para valer após a abertura do estádio.

Digitalizadas e devolvidas aos donos, as imagens integrarão uma exposição que deve ser organizada neste semestre. As histórias por trás delas farão parte da mostra.

"Neste mês, vamos sair pedindo fotos pelas casas e faremos registros em vídeo", conta Daniela Alfonsi, diretora do museu. Para agendar um horário e entregar a sua foto, escreva para crfb@museudofutebol.

HISTÓRIA

O projeto de loteamento do Pacaembu, iniciado em 1925, criou o modelo que o bairro mantém até hoje, o de cidade-jardim, com ruas sinuosas, muitas árvores e terrenos largos, com casas enormes ocupando o centro do terreno.

Esse desenho repete o modelo criado pela mesma Cia.City em outros bairros da cidade, como Jardins e City América.

O nome do bairro, de origem indígena, vem do rio Pacaembu, sede de um aldeamento jesuíta criado no século 16,

O rio foi coberto em 1922, para a abertura da avenida que corta o bairro. Na época, a área era considerada distante da cidade e abrigava apenas um asilo, um hospital (o Samaritano, ainda em operação) e, em sua parte alta, do cemitério do Araçá, na divisa com Perdizes.

Em 1950, o estádio receberia jogos da Copa do Mundo e, no ano seguinte, do Pan-Americano de 1963. Nesse período, se consolidou como um dos bairros da elite paulistana, com casas enormes em amplos terrenos.

Nas últimas décadas, os moradores brigaram para manter a tranquilidade, com restrições ao comércio, o veto a shows no estádio e o tombamento do bairro inteiro.

"O tombamento inclui o desenho das ruas, das calçadas e o tipo de imóveis, mas não as casas, que podem ser demolidas", explica Rodrigo Mauro, presidente da associação Viva Pacaembu.

A ideia surgiu de uma moradora, ao ver que um prédio seria erguido ao lado de sua casa, no fim da década de 1980, resolveu iniciar a campanha pelo tombamento.

Apesar da saída de seu principal inquilino, o Corinthians, que ergueu sua casa própria em Itaquera, o estádio segue recebendo muitos jogos. Neste ano, os três times grandes da capital mandaram partidas lá enquanto suas arenas eram reformadas, recebiam shows e eventos. "A média de 40 partidas por ano deve se manter nos próximos anos", diz Mauro.

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