Ken Mizumoto é um personagem curioso. Já foi dançarino de rua no auge do movimento hip hop em São Paulo, nos anos 1990, viveu dez anos no Japão a lidar com peixes, assumiu o balcão do restaurante de seu pai, o Shin-Zushi, e, há pouco, abriu seu izakaya no Paraíso.
Graças a isso, comemoremos, ele nos serve coisas como espetos de moela, crocante, de interior quase malpassado, uma ousadia (e uma delícia); língua bovina em bela espessura —e textura intacta—, feita com delicadeza na brasa de carvão, aos olhos do cliente; nacos de berinjela de borda levemente tostada, pincelados com uma pasta de missô açucarada que a carameliza por fora.
Seu Yorimichi, palavra do dia a dia do japonês que significa "desviar do caminho, dar uma passadinha", ele conta, é o primeiro lugar próprio, que ergueu do zero. E ali, numa portinha, estão acomodados uma grelha de carvão, um balcão, e toda sorte de bebidas japonesas à vista, fazendo cena —um belo visual (eu, e isso é muito particular, claro, me incomodo com a altura da música pop).
Para começar, vão bem os franguinhos fritos —a sobrecoxa úmida é embalada em farinha e faz croc, croc a cada mordida; a fritura, porém, podia estar um pouco mais seca (R$ 15)— e o tamagoyaki, o omelete japonês (R$ 20), com leve adocicado, bem molhadinho (R$ 20), mas servido frio.
Dos pratos, há o aconchegante kama meshi (R$ 50): arroz cozido no caldo de frango, com pancetta suculenta e ovo perfeito, de gema mole, servido em uma panela de ferro, tudo bem quente. O cliente mistura os elementos ali dentro, como uma gororoba, bem gostoso —e o arroz que gruda na panela fica com uma crostinha que é uma beleza.
Alberto Rocha/Folhapress | ||
O kama meshi, com arroz, pancetta e ovo perfeito |
No sutamina don (R$ 30) é interessante ver Japão e Brasil convivendo. Trata-se de outro prato de arroz —há uma ala dedicada a eles no cardápio—, com tartare de carne de wagyu, cará ralado, gema curada em shoyu, que fica como um gel, mais soja fermentada e quiabo —que com suas gosmas dão liga e alegria.
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Yorimichi
Onde r. Otávio Nébias, 203, Paraíso; tel. 3052-0029
Quando de seg. a sáb., das 18h30 à 0h30 (fecha toda terceira segunda-feira do mês)
Avaliação bom