Um gringo em SP: americano visita lugares da rotina da cidade e conta suas impressões

Nasci nos Estados Unidos, filho de mãe brasileira e pai norte-americano, então aprendi a falar português ainda criança. Sempre tive curiosidade de conhecer o Brasil e, como estrangeiro, tudo aqui é uma experiência nova para mim.

Vivendo em São Paulo por alguns meses, decidi que queria visitar alguns destinos turísticos, mas também viver como cidadão brasileiro. Comecei a pedir dicas de lugares populares para paulistas e gringos e outros que fizessem parte da rotina da cidade e cheguei a essa lista de sete, sobre os quais conto minhas impressões abaixo.

Estação Sé do Metrô
Quando me falaram sobre o caos na estação Sé do Metrô, eu pensei: "Eu sou de Chicago, a terceiro maior cidade dos Estados Unidos, não vou me assustar com esse 'bagulho muito bruto'".

Mas quando eu tentei descer na estação, só vi braços, pernas, bolsas e sapatos batendo. Eu tomei um soco, e meus óculos quase caíram da minha cara. Abaixei o ombro e a cabeça, coloquei meu antebraço para frente e me concentrei em colocar um no pé na frente do outro –me lembrei do tempo em que eu joguei futebol americano.

Eu duvido que eu vá ter a mesma experiência em outra cidade ou país. Felizmente, não tinha muito gente quando eu voltei.

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Beco do Batman
Quando eu ouvi falar do Beco do Batman, eu achei que tinha ouvido Bacon do Batman. Mas fiquei mais confuso ainda quando eu descobri que não tinha nada a ver com o Batman. O beco tem arte de rua, turistas (que nem eu), e brasileiros –não sei qual foi meu grafite preferido. Só que, infelizmente, é só um beco –você pode achar um bar ali perto, na Vila Madalena. Para mim, foi uma experiência breve.

​Beco do Batman - r. Gonçalo Afonso, s/nº, Vila Madalena.

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Rua 25 de Março
Assediado não é a palavra eu usaria para descrever como fui tratado pelos vendedores na 25 de Março. Basicamente, não existe palavra para descrever o que aconteceu. "Negão, tenho roupa de marca, tênis, jeans." Foi isso que eu ouvi o tempo todo enquanto me cutucavam. Se você faz contato visual, esquece: os vendedores vão pular em cima de você, e não vai dar para escapar, já que é uma multidão enorme.

O lugar tem muita confusão e pode ter bandidos. Por isso, coloquei minha mochila para frente (uma coisa que os brasileiros fazem bastante quando tem multidões grandes em lugares perigosos). A rua está tão cheia que é quase impossível passar de carro.

Há pessoas na rua tentando vender coisas para sobreviver. "Água gelada, Skol gelada", esse é o som da rua. Eles correm quando a polícia aparece e voltam quando vão embora: "A promoção voltou, quem quer?". O lugar é bom para achar mercadoria barata, mas a pobreza é uma coisa triste.

Rua 25 de Março, Centro.

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Pinacoteca
A Pinacoteca é, com certeza, uma das coisas mais legais que eu vi aqui. Eles têm pinturas que nunca vi, de artistas de que eu nunca ouvi falar. Antes de entrar, parei para ver a arquitetura maravilhosa do prédio no Centro, projetado por Ramos de Azevedo. As colunas de tijolo parecem as de um castelo.

Dentro do castelo, fiquei meio perdido. Tem tantas obras de arte que eu não sabia por onde começar. Vi uma obra abstrata e não entendi nada. E nem vou entender, aparentemente.

E eu notei que esse lugar não é só popular para paulistas. Tinha bastante estrangeiros, eu não era o único. Achei melhor ficar bem quieto e esconder a camiseta de faculdade que eu estava usando para não correr o risco de alguém vir falar inglês comigo. Brasileiros que falam inglês sempre querem praticar a língua quando descobrem que eu sou americano, mas eu estou tentando praticar o português!

Para ver tudo que a Pinacoteca tem para oferecer, você precisar ir pelo menos duas vezes –eu tive só duas horas. Também dei uma passadinha na loja do museu e comprei um caderninho e uma agenda como lembrança.

Pinacoteca de São Paulo. Praça da Luz, 2, Bom Retiro.

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Villa Country
A última coisa em que pensava quando imaginava o Brasil era a música sertaneja (ou country music nos Estados Unidos). Mas eu descobri que este gênero de música é uma importante parte da cultura brasileira, mesmo que tenha influência dos EUA. Vi vários homens e mulheres com chapéu e botas de cowboy.

Mas uma coisa que achei interessante foram as fichas para comprar as bebidas. Eu bebo raramente, e não frequento bares assim, mas esse sistema de comprar um bilhete antes de pegar o drinque é muito mais organizado do que nos EUA (onde a gente pede o drinque e paga na hora). Eu bebi uma caipirinha tropical pela primeira vez; era forte demais e um pouco doce e suave. Eu não sei se vou beber esse drinque de novo, mas gostei.

O Villa Country também é grande e limpo e tem vários lugares para dançar, comprar drinques e comida. Eu não curto música sertaneja, mas quando Chitãozinho & Xororó tocaram, eu tentei dançar pelo ritmo (notem: eu falei tentei. Eu não sei dançar). A multidão era enorme e reparei que tinha pessoas um pouco mais velhas; meu colega que me acompanhou me explicou que essa era uma dupla sertaneja mais tradicional.

Avenida Francisco Matarazzo, 774, Água Branca.

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Avenida Paulista
A avenida Paulista parece um lugar mágico. Ela se parece com a Michigan Avenue, em Chicago. A diferença é que a Paulista fecha para motoristas aos domingos. Fui descobrir o que tinha para fazer por lá e vi música ao vivo e uma coisa chamada Cup Noodles. Todo mundo estava comendo isso. Não havia esquina que não tivesse o Cup Noodles. Mas para mim, Cup Noodles, que é ramen instantâneo, é nojento. Eu realmente odeio.

A avenida tem comerciantes de outros países, que vendem coisas de outras culturas. Eu achei isso legal. Mas uma coisa que eu percebi é que a Paulista não é um lugar para andar sozinho. Você precisa estar com a família ou amigos, e essa avenida não oferece uma coisa especial ou única. É só uma rua fechada com música ao vivo (e, no dia em que eu fui, Cup Noodles).

Avenida Paulista, Bela Vista.

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Feira livre da Bela Vista
Nós não temos feiras como as brasileiras nos Estados Unidos. Se você quer comprar frutas e legumes frescos na rua, pode ir para os "farmers' markets". Mas as feiras aqui vendem comidas tradicionais do país, que eu não como com frequência: pastéis e caldo de cana. Já tinha comido um pastel de queijo em um restaurante brasileiro nos EUA, e gostei.

Caldo de cana com limão é a melhor bebida que eu já tomei aqui. Eu gostaria de pensar que é uma bebida saudável, mas duvido, por causa de quantidade de açúcar. Uma coisa que eu achei estranha é que tinha muitas barracas vendendo a mesma coisa. Não tem isso nos EUA, nos "farmers' markets". Por exemplo, tinha barracas vendendo pastéis, iguais, uma ao lado da outra. E eles gritavam para ganhar a minha atenção: "Bom dia, bom dia".

Mas tem uma vantagem aqui: nas feiras do Brasil você pode provar quase tudo sem comprar. E eu aproveitei. Comi uma fatia da uma manga verde que era muito doce. E achei as mangas com manchas pretas muito gostosas, pena que não tem nos EUA –pelo menos que eu tenha visto.

Rua Cardeal Leme, s/nº, Bela Vista.

CARLOS D. WILLIAMSON é norte-americano, mestrando de Jornalismo na Northwestern University, em Chicago (EUA), e estagiário-visitante na Folha.

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