Uma agenda de metal e pesos para papel materializaram em três dimensões pela primeira vez as ideias deles, 25 anos atrás.
Foi a largada que transformou Luciana Martins e Gerson de Oliveira, estudantes de cinema da Escola de Comunicações e Artes (USP), em designers e que se solidificou na criação da Ovo, em 2002, um dos mais destacados estúdios de design do país.
Em 1995, veio o primeiro Prêmio Design, do Museu da Casa Brasileira, para a poltrona Cadê, uma das peças mais marcantes do portfólio da dupla. Ainda receberam menções e prêmios no mesmo concurso a mesa Camelo (1998), o cabideiro Uevos Revueltos (2005) e a linha Tiras (2010).
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Módulos Campo para área externa, em concreto pigmentado, do estúdio Ovo |
Vieram outros prêmios e exposições no Brasil e no exterior. Em 2011, foi publicado um livro sobre o trabalho da dupla.
Hoje, são mais de cem linhas em produção entre objetos, mobiliário, luminárias e híbridos, num ritmo de dez lançamentos por ano. Para 2017, deve dobrar a média de lançamentos. Os dois trabalham na prototipagem de cinco peças e devem chegar a dezembro com 18 novidades no catálogo.
"A leveza visual, a clareza do projeto e interatividade do usuário com os objetos marcam a nossa produção", diz Luciana. "Sem ser uma decisão, acaba sendo uma prática que a gente pense no desenho diferenciando marcadamente o que é linha do que é volume. E isso é uma chave de leitura do nosso trabalho ", completa Gerson.
"No começo, nossa produção era muito manual, mas logo tomamos a decisão de chamar especialistas em cada técnica e material, para manter uma composição mais generalista", afirma. "Essencialmente, continuamos a ter ideias e buscar parceiros que fabriquem e distribuam."
De seis anos para cá, uma nova frente vem se consolidando. Ambientes coletivos, corporativos ou para instituições culturais abertas ao público ganham força.
Em 2011, foram a sala de leitura e o espaço educativo da Pinacoteca do Estado. No ano seguinte, a biblioteca da Comunidade Shalom. Em 2015, sala vip para a Star Alliance e, em 2016, o mobiliário para o café Bienal. "Projetar para o prédio da Bienal foi uma honra", diz Luciana.
Agora em 2017 começa a sair do papel o mais ambicioso projeto de espaço coletivo: a construção do novo Teatro Cultura Artística, que pegou fogo em 2008. O projeto do novo teatro é do escritório Paulo Bruna, arquiteto que trabalhou no escritório de Rino Levi, o autor do teatro original, aberto em 1950.
Com previsão de conclusão em 2020, o novo teatro terá sinalização, mobiliário e objetos para nove espaços de autoria da Ovo. Uma ideia que estava no projeto de Levi vai ser reeditada, e nas laterais, um café e uma livraria devem ficar abertos durante o dia.
Os projetos de espaços coletivos impulsionaram as vendas da marca em 2016. "A linha Campo traz descontração, jovialidade e ajuda a formar a identidade de um espaço, acho que por isso faz sucesso nos projetos corporativos" afirma Luciana.
"Os arquitetos gostam, porque os módulos ajudam a organizar os fluxos e o espaço. Eles criam áreas de descompressão nos escritórios e têm bom preço", acrescenta. Campeã de vendas, a linha Campo tem módulos que partem de R$ 1.800, em acabamento estofado com tecido ou de cimento pigmentado.
Também vendem bem a Camelo e os Uevos, o item mais acessível da produção da dupla, a R$ 200 a unidade. Na outra ponta, um dos mais caros é a poltrona Cortes, de 2106, por volta de R$ 15 mil.
Além de lançamentos nos eventos de design, no segundo semestre deste ano a dupla fará uma fachada para a Galeria Vermelho.
"O que mudou nesses 25 anos é que poder olhar para trás já dá uma noção mais clara do que é seu trabalho, virtudes e falhas, e o olhar retrospectivo guia a criação. Temos hoje mais liberdade para recriar tipologias, andar nas margens", diz Luciana.
"A gente sempre se sentiu filiado à arquitetura brasileira e às artes plásticas e não à tradição do artesanato. Nossa formação em cinema importa muito ainda. O cinema é uma orquestração de atividades, e isso se traduz no nosso trabalho", afirma.