Plano de concessão do Pacaembu esbarra em clubes e associação de moradores

Joel Silva/Folhapress
O estádio do Pacaembu, que no ano passado teve 30 jogos; em 2012, eram 73
O estádio do Pacaembu, que no ano passado teve 30 jogos; em 2012, eram 73

A inauguração dos estádios de Palmeiras e Corinthians foi um golpe para a casa mais tradicional do futebol paulistano. E, próximo de completar 77 anos, no mês que vem, o Pacaembu não sabe o seu futuro. A gestão João Doria (PSDB) planeja concedê-lo à iniciativa privada, mas, para colocar a ideia em prática, há barreiras no caminho.

O plano de concessão está sendo elaborado pela prefeitura. Neste momento, o que é certo é a intenção de exigir uma reforma no espaço em troca do direito de explorá-lo comercialmente por um determinado tempo.

"O Pacaembu não tem condições de competir com os principais estádios da cidade", diz o secretário municipal de Esportes e Lazer, Jorge Damião. "É preciso melhorar os banheiros, fazer 'hospitality center', estacionamento, área de alimentação, camarotes Ele está muito defasado."

Para tornar o estádio atrativo para potenciais concessionários, Damião estima que será preciso realizar lá pelo menos 50 jogos por ano. O ideal seria 60, nos cálculos dele, o que é bastante, considerando o quadro dos últimos anos. Em 2016, por exemplo, houve 30 partidas.

Jogos e renda do pacaembu - Quantas partidas o estádio recebeu nos últimos anos

O secretário pretende convencer Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos a usar com maior frequência a velha casa do futebol, assim como clubes de outros Estados, a exemplo do Flamengo, Bahia e Ceará.

Mas parece pouco provável que a tática funcione. Procurados pela sãopaulo, Corinthians, Palmeiras e São Paulo afirmaram que só usarão o Pacaembu neste ano em situações de emergência, ou seja, quando não puderem jogar em seus estádios. O Santos só o fará ocasionalmente, pois sua prioridade é usar a Vila Belmiro.

Até a conclusão desta edição, o clube santista —que chegou a cogitar a possibilidade de assumir a administração do estádio, mas desistiu da ideia— disputou quatro jogos como mandante no Paulista, todos em Santos.

Além da falta de futebol, há outro obstáculo para a concessão do Pacaembu à iniciativa privada: a impossibilidade da realização de shows no local. Uma decisão tomada pela Justiça em novembro de 2005, resultado de mobilização da associação Viva Pacaembu, proíbe qualquer evento não esportivo no estádio, ou mesmo eventos esportivos que causem transtornos aos moradores do bairro.

Público no Pacaembu - Quantos torcedores o estádio recebeu a cada ano

Responsável pela elaboração do plano de concessão do Pacaembu, o secretário de Desestatização, Wilson Poit, vê a volta dos shows como fundamental para tornar o estádio mais rentável e, por consequência, mais atraente para as empresas -a prefeitura diz que já há interessados, mas não revela nomes. A ideia dele é persuadir a associação em nome do que ele diz ser um objetivo maior.

"Acho que não interessa aos vizinhos que o Pacaembu continue como está, com insegurança, deteriorado. Encontraremos uma maneira de voltar a fazer shows lá sem ferir os interesses dos moradores", afirma Poit. Segundo ele, a administração passada, do petista Fernando Haddad, tinha três projetos de concessão do estádio, mas todos foram descartados por serem considerados caros.

O otimismo de Poit não encontra, porém, eco na Viva Pacaembu. "O prefeito terá de encontrar um jeito de fazer a concessão sem ferir o que foi determinado pela Justiça", diz o presidente da associação, Rodrigo Mauro.

Como se vê, o prefeito João Doria, que é torcedor do Santos, precisará ter a habilidade de um Neymar para driblar tantos obstáculos à concessão do Pacaembu.

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O clube do estádio

Quem não conhece o Pacaembu e imagina que ele é apenas um estádio de futebol está enganado. O local abriga um complexo poliesportivo que atende a cerca de 12 mil associados, que podem praticar 14 modalidades esportivas.

Os itens mais valiosos do complexo são a piscina aquecida com capacidade para 2,5 mil pessoas e padrão Fina (Federação Internacional de Natação), o ginásio poliesportivo (capacidade para 2.166 espectadores) e a quadra coberta de tênis (800 espectadores). A procura dos moradores da cidade pelo clube é cada vez maior. Apenas entre os dias 1º e 19 de janeiro, 2.094 pessoas se tornaram sócias com o objetivo de desfrutar da estrutura do Pacaembu, comparável à dos bons clubes particulares de São Paulo.

Entre as 14 modalidades oferecidas para aulas, estão tênis, natação, judô, futsal e musculação. Para se associar, é preciso ser morador da cidade e comparecer à secretaria do Pacaembu (Rua Capivari, sem número) munido de RG (original e cópia), comprovante de residência (original e cópia) e uma foto 2 x 2.

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