Três artistas de SP mostram suas visões sobre a arte de rua em documentário

Divulgação
Mural de 30 metros, no Grajaú, em cena de "Olhar Instigado"
Mural de 30 metros, no Grajaú, em cena de "Olhar Instigado"

Três homens que enxergam e vivem São Paulo de maneiras distintas têm algo em comum: usam muros e fachadas de prédios da capital para expressar sentimentos e opiniões. No documentário "Olhar Instigado", que entrou em cartaz na última quinta (9), Alexandre Orion, André Monteiro e Bruno Locuras mostram o que existe por trás de suas intervenções urbanas.

O longa de estreia dos jovens Chico Gomes, 27, e Felipe Lion, 28, discute a arte de rua sob a perspectiva de quem a faz. O tema está em voga desde o início deste ano, quando a gestão do prefeito João Doria (PSDB) apresentou seu programa de zeladoria que inclui, entre outros itens, a pintura —de cinza— de paredes pichadas e grafitadas, mas a ideia para o filme nasceu muito antes, em 2011. Na época, a dupla de diretores estudava rádio e televisão na Faap (Fundação Armando Álvares Penteado) e se preparava para apresentar o trabalho de conclusão de curso, o TCC.

Aproveitando a pesquisa para o TCC, que abordava o espaço público na metrópole por meio da experiência de artistas, Gomes e Lion chegaram aos personagens que guiam o título, filmado em 2014.

"O primeiro quesito para a escolha deles foi o tipo de arte que cada um faz", diz Gomes. "Para nós, também era importante que eles não se conhecessem, pois queríamos criar um diálogo sem que eles se encontrassem. Outro aspecto relevante era que cada um vivesse um tipo de cidade diferente, que morasse em lugares opostos e que frequentasse locais variados."

De fato, os protagonistas, apesar de "conversarem" sem se reunir no filme, têm bagagens e métodos de trabalho que os levam a caminhos diversos.

Alexandre Orion, 38, é um artista multimídia que fez seu primeiro grafite aos 13. Ele diz que se inspira na cidade: não em sua arquitetura, que considera opressora, e, sim, nela como espaço de convívio. "Boa parte do que sei do mundo aprendi observando ou estando na rua. Não tenho preferência por lugar nem por uma técnica. Vai depender do discurso que pretendo abordar. E, normalmente, é um discurso que a cidade me trouxe", revela ele.

Entre as obras de Orion estão um mural de cerca de 30 metros no Grajaú, na zona sul, que revela uma criança destruindo casas e desenhos de caveiras —já apagados— feitas a partir de fuligem no túnel Max Feffer, em Pinheiros, na zona oeste.

Já André Monteiro, 40, que é conhecido como Pato, costuma grafitar figuras geométricas e coloridas sobretudo na zona sul, onde mora. Neste ano, ele teve um de seus trabalhos extintos da avenida 23 de Maio. "Foi um dos últimos a ser apagado", diz o artista. "Fiquei triste por ter sido um prefeito. Ele está começando, aprendendo, é meio 'toy' [grafiteiro iniciante], na gíria que usamos. Como não votei nele, é menos frustrante. Mas o discurso de ódio não é legal."

Divulgação
Cena do documentário 'Olhar Instigado'
Cena do documentário 'Olhar Instigado'

O mais novo do trio de "Olhar Instigado" é Bruno Locuras, 25, adepto à pichação. Segundo ele, estar no filme é bom. "As pessoas poderão ver que, por trás dos riscos, existe uma vida, uma pessoa comum que trabalha e busca seus objetivos."

De Barueri, na Grande São Paulo, Locuras, que é um dos autores de "Doria, pixo é arte", frase pintada em um edifício próximo ao Terminal Bandeira, fala que o centro de São Paulo é seu lugar preferido de atuação.

Mas as saídas dele às ruas após a sanção da lei antipichação, no mês passado, estão mais cuidadosas. "Agora, o custo da minha exposição está estimado em R$ 5.000", diz Locuras, bem-humorado, referindo-se ao valor da multa caso seja pego no ato.

Para Chico Gomes, a questão levantada pelo prefeito "é interessante para a obra". "Acho que 'Olhar' será mais um elemento para o debate. O filme não é uma bandeira contra o que ele está fazendo ou não, mas é um ingrediente a mais para gerar discussão", afirma o diretor.

*

CineSesc
onde: r. Augusta, 2.075, Cerqueira César, tel. 3087-0500.
quando: seg. a qui., às 19h; sex. e sáb., às 19h e às 21h30; dom., às 21h30.

Publicidade
Publicidade