Gestão Doria faz planos para bicicletas, mas não diz metas nem prazos

O secretário municipal de Mobilidade e Transportes, Sérgio Avelleda, 46, chega de bicicleta para o encontro marcado na tarde de sábado na escadaria do Theatro Municipal, no centro paulistano. Veio de sua casa, na região da Paulista, pedalando um modelo dobrável. "Essa aqui você pode levar a qualquer hora no ônibus e no metrô", afirma ele.

Ex-presidente da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), de 2007 a 2010, e do Metrô, de 2011 a 2012, foi durante as gestões dele que teve início a política de permitir o acesso de bicicleta em vagões, em horários específicos.

Avelleda começou a pedalar em 2009, na época da construção da ciclovia do rio Pinheiros, obra que foi realizada em sua administração na CPTM e que o aproximou dos cicloativistas. Nunca mais parou.
Em 2015, ele trocou o carro pela bicicleta, que passou a ser seu principal meio de locomoção. "Ano passado, fiz 6.500 quilômetros pedalando. Se preciso de carro, chamo um táxi ou uso um aplicativo."

Na frota de duas rodas do secretário constam ainda uma mountain bike e uma bicicleta urbana. "Nada muito sofisticado."

Inicialmente, os defensores da bicicleta comemoraram a escolha de Avelleda para a secretaria. Mas, hoje, estão com o pé atrás em função do que classificam como demora da prefeitura para definir o futuro da bicicleta.

O secretário pede calma. "Nosso compromisso é aumentar o número de ciclistas na cidade. A bicicleta é uma política pública das mais importantes: as maiores cidades do mundo hoje se dedicam a expandir seu uso."

Com quase 500 km de vias para ciclistas, São Paulo tem a maior malha da América Latina. A maioria delas, 414 km, foi entregue pela gestão Fernando Haddad (2013-2016).

"Mais ciclovias significam mais bicicletas na rua. Ciclovias são berçários de ciclistas", diz João Lacerda, 35, da Associação Transporte Ativo, ONG que atua na promoção de meios de transporte como bike, patins e skate. Segundo estimativa da Ciclocidade, há 500 mil ciclistas urbanos na capital. É gente que usa bicicleta para ir ao trabalho, ir à escola, passear.

Avelleda diz que sente falta de ver mais bicicletas circulando. "A gente vai ser mais respeitado à medida que ocupe mais espaços. Quanto mais bicicleta houver nas ruas, mais as pessoas vão reconhecê-la."

E como está a estrutura para que os paulistanos tirem as suas bicicletas de casa e as coloquem no asfalto?

"Alguns espaços reservados aos ciclistas são muito bons, outros são razoáveis e outros não fazem muito sentido", responde o secretário. "Falta conectividade. Você vê algumas vias que começam num lugar onde não tem ciclovia e terminam em outro igual. Nossa prioridade é aumentar essa conexão, fazer a rede funcionar."

Na lista de planos também está a ideia de instalar cabines onde o ciclista possa tomar banho e trocar de roupa antes de ir ao trabalho: as chamadas "bike stop".

Ampliar a ciclovia da Radial Leste para levá-la do Tatuapé, na zona leste, ao Parque Dom Pedro, no centro, é outra proposta, além de aumentar a oferta de bicicletários, expandir as ciclovias e corrigir traçados atuais.
Avelleda não cita, entretanto, metas e prazos para nenhuma delas.

"Todo o investimento da prefeitura está congelado. Não é fácil", diz ele, que afirma estar em busca de parceiros na iniciativa privada para viabilizar os projetos. Por isso, não estabelece datas. A primeira "bike stop", por exemplo, o secretário promete que será instalada na avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini, na zona oeste.

Depois, a mesma região deve ganhar mais duas, uma delas em Pinheiros.

Antes de encerrar a conversa, Sérgio Avelleda prevê que o crescimento da bicicleta em São Paulo é um caminho sem volta. "O Metrô faz a cada dez anos a pesquisa Origem e Destino, levantamento complexo e sofisticado que entrevista centenas de milhares de pessoas. Em 2007, a pesquisa apontava 38,5 milhões de viagens por dia na região metropolitana de São Paulo. Dessas, 360 mil eram feitas de bicicleta. Tenho certeza de que na pesquisa deste ano o número será de 1 milhão ou mais."

Avelleda despede-se e sobe na sua bicicleta azul com banco de couro vermelho. Para o seu próximo compromisso, anuncia que pedalará até a República para pegar o metrô e, depois, um trem da CPTM.

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Por que são vermelhas?
Muitas ciclovias pelo mundo são demarcadas só com faixas brancas sobre o pavimento, mas cores podem fazer parte da composição de sinalização. As mais comuns são verde, azul e vermelha. Ao escolher o vermelho, a CET disse ter seguido o padrão adotado pelo Contran (Conselho Nacional de Trânsito). Ciclovias instaladas em gestões anteriores, como a do rio Pinheiros (2010) e a do Caminho Verde (Radial Leste,
de 2008), executadas pelo governo estadual, também são vermelhas.

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