Eu canto, sim: cursos de dança e música reúnem turmas animadas de cabelinhos brancos

Pode apostar: quem canta seus males espanta. É só começar a cantoria que as mazelas de uma turma com mais de 60 anos parecem ir embora —ao menos temporariamente.

Isso começa a ocorrer a partir do momento em que eles se dividem entre contraltos e barítonos e passam a entoar canções tão diversas quanto o próprio grupo de 43 alunos.

São músicas japonesas. O nosso tradicional sambinha também se faz presente. Até mesmo uma canção africana ganha força.

"O Sesc é um antidepressivo. Cheguei aqui com muitas dores. Aí eu cantei, me alegrei e tudo passou ", conta Eliane Vidal, 64.

O canto é tão forte que até atravessa as janelas do Sesc Consolação, na região central paulistana. Estamos numa quarta-feira cinzenta. São 13h30, em ponto, quando os alunos se reúnem para começar a soltar o gogó. Eles fazem parte da turma do Coral da Terceira Idade.

Na sala da cantoria, a decoração é inspiradora: violoncelos enfileirados e uma partitura desenhada em uma das paredes compõem o cenário.

Antes de começar a soltar a voz, eles formam uma meia-lua em frente a um piano. Assumem, então, seus lugares e passam a marchar pela sala. Primeiro, com o pé direito. Depois, com o esquerdo. O corpo faz movimento de pêndulo. As palmas entram em cena, e o ritmo passa a ser seguido sem perder o compasso.

Anna Maria, 91, que faz parte do coral, diz com orgulho que já fez curso de dança e já cantou em outras bandas. "Acho fundamental qualquer atividade coletiva. Foi em um baile da terceira idade que conheci meu segundo marido", lembra, rindo, a mais velha da turma.

SENTA QUE LÁ VEM A HISTÓRIA

Segundo o IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), há no país 29,4 milhões de idosos, o que representa 14,3% da população brasileira. E a tendência é que esse percentual aumente cada vez mais. De acordo com a projeção das Nações Unidas, essa população deverá dobrar nos próximos 24 anos.

Para atender esse público, a variedade de cursos oferecidos na capital é vasta: vai da básica aula de informática ao curso de história da arte.

Em outro canto da cidade, em Perdizes, na zona oeste, outra turma se encontra. Desta vez, em outro cenário: uma sala de aula da PUC (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), onde duas vezes por semana uma turma de 18 alunos assiste a aulas de história e conhecimentos gerais, por exemplo. O grupo faz parte do programa Universidade Aberta à Maturidade, que surgiu em 1992, ligada à Faculdade de Educação.

A maioria dos alunos está aposentada e vê o curso como uma forma de ter companhia. "Minha filha, que mora em Londres, me incentivou. Procurei saber sobre o curso, me interessei e aqui estou", conta Helena Pereira dos Santos, 69.

O professor de história Roberto Coelho tem uma explicação que ajuda a entender o por que de tamanha procura dos alunos da terceira idade: "Dar aula para quem tem mais de 60 anos significa aprender mais do que ensinar", explica, para, em seguida, complementar: "Eles já vivenciaram tanta coisa e têm muito para nos contar".

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Confira locais de aulas e cursos:

Sesc Consolação. R. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, tel. 3234-3000. Coral da Terceira Idade. Qua., das 13h30 às 15h30. De R$ 9 (credencial plena) a R$ 30 (inteira).

PUC-SP. R. Ministro Godói, 969, Perdizes, tel. 3124-9600. Universidade Aberta à Maturidade. Seg. e qua, das 14h às 17h. Valor: sob consulta.

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