Tenor 'Pavaroshi' faz sucesso ao soltar a voz em cantina italiana do Brás

No amplo salão, com paredes apinhadas de quadros e garrafas de vinho pendendo sobre as cabeças da clientela, chegam à mesa fartas porções de massa.

Esse é o cenário da tradicional cantina Gigio, no Brás, região central, que, assim como na decoração, segue a temática italiana na trilha sonora.

Até aí, nada muito diferente de outros estabelecimentos do gênero, a não ser por um detalhe que não passa despercebido: o tenor Satoshi Yoshii anima a clientela e se destaca pelas feições orientais.

Filho de imigrantes japoneses, Yoshii nasceu em 1936 e descobriu o gosto pela música ainda nos tempos de escola.

Aos 19 anos, participou de um programa de calouros da rádio Cultura e, nessa mesma época, foi apresentado a um maestro que o inspirou a fazer aulas de canto

"Desde cedo, já cantava música italiana e gostava de ópera", lembra. O tenor nissei, contudo, revela que não foi tão simples seguir carreira na música, pois seu pai exigiu que ele estudasse para obter um diploma em outra área. Yoshii formou-se, então, em contabilidade e chegou a trabalhar no ramo.

"Meu pai era rigoroso com a educação dos filhos e dizia que eu não poderia ficar só brincando de virar artista", conta.

Mas a vocação falou, literalmente, mais alto. Em 1959, o cantor foi aprovado em um concurso para integrar o coral do Theatro Municipal de São Paulo, onde trabalhou até se aposentar, em 2003. Ali, uma colega carinhosamente passou a chamá-lo de Pavaroshi, uma mistura de seu nome com o do célebre tenor italiano Luciano Pavarotti (1935-2007).

O apelido ganhou ainda mais alcance após uma entrevista no programa de Jô Soares (à época, em 1991, no SBT). Na cantina existe até hoje um quadro pendurado com a foto do cantor ao lado do apresentador.

O convite para se apresentar na Gigio veio de um colega de profissão que já trabalhava na cantina, em 1989. Por mais de 25 anos, Satoshi animou os jantares do restaurante, com apresentações semanais.

Hoje, aos 80 anos, Pavaroshi diz estar "diminuindo o ritmo" e chegou a cogitar uma aposentadoria na cantina, mas recuou diante dos pedidos da clientela. "Pensei em parar por conta da minha idade, mas quando fico sabendo que o público pede para me chamar, sinto-me muito feliz e envaidecido e isso me motiva a continuar", diz o cantor, que tem quatro filhos e nove netos.

Apesar da frequência não ser a mesma —atualmente ele vai ao restaurante esporadicamente, aos sábados—, certas coisas não mudam: Pavaroshi mantém a simpatia e a alegria ao entoar o "O Sole Mio" e clássicos como "Funiculí Funiculá" e "Parla Più Piano", canções que estão entre as mais pedidas.

*

OUTRAS CASAS COM MÚSICA

Cantina di Salerno
Roberto Santi é quem solta a voz no jantar das quintas, das sextas e dos sábados. Além de canções italianas, inclui músicas pedidas pelos clientes. A casa tem uma pista de dança.

R. Francisco Leitão, 336, Pinheiros, tel. 3064-6757 e 3064-1288

Cantina Roperto
Humberto Panachão (no acordeão) e Mazzulli (voz e violão) são os responsáveis por animar as noites de segunda a sexta e também os almoços de sábado, com, é claro, músicas típicas italianas.

R. Treze de Maio, 634, Bela Vista, tel. 3288-2573

C...Que Sabe!
Tarantela e outros clássicos do país da bota embalam os jantares da casa na voz do cantor Sérgio Luiz. Vale lembrar que as apresentações musicais ocorrem todas as noites, a partir das 20h.

R. Rui Barbosa, 192, Bela Vista, tel. 3289-2574

Lazzarella
Na cantina, localizada no coração do Bixiga, a música ao vivo fica por conta do cantor Ronaldo Koch. As performances ocorrem de sexta a domingo, após as 20h, e aos sábados, domingos e feriados a partir do meio-dia.

R. Treze de Maio, 589, Bela Vista, tel. 3266-3210

Pizzaria Famiglia Mancini
Na pizzaria de Walter Mancini, também dono do tradicional restaurante Famiglia Mancini, situado na mesma rua, músicos da casa tocam clássicos da MPB e do jazz diariamente, a partir das 20h.

Rua Avanhandava, 25, Bela Vista, tel. 3256-4320

Publicidade
Publicidade