Organizadores de feira de vinhos tiram a roupa para divulgar bebidas orgânicas e biodinâmicas

Imagine que você seja desembaraçado a ponto de expor seu corpo nu em uma foto. "Sem maquiagem, roupas, produção do cabelo", reforça a sommelière Lis Cereja. É o caso dela mesma, seu marido e de dois amigos que posaram para a imagem no convite da Naturebas, feira que acontece em agosto com vinhos orgânicos, biodinâmicos e naturais.

A "foto-protesto" chama a atenção para a "nudez de um vinho que não tem nada a esconder", explica Lis, à frente do evento e também da Enoteca Saint VinSaint, um restaurante e loja que fica na Vila Nova Conceição. "Agrade ou não, o vinho convencional é feito e modificado para atingir o mercado, com um padrão de aroma e sabor", diz ela.

Fabio Knoll/Divulgação
A foto do convite do evento Naturebas mostra a sommelière Lis Cereja com seu marido e amigos, todos eles nus
A foto do evento Naturebas mostra a sommelière Lis Cereja com seu marido e amigos, todos nus

Esses produtores argumentam que a maquiagem representa um conjunto de "técnicas e aditivos enológicos levados ao extremo", afirma.

O perfil desses "rebeldes" varia, mas tem em comum valorizar o solo, o plantio e quem trabalha na terra. Engloba os cultivos sustentável, orgânico e biodinâmico, mas também a chamada produção natural, feita com o menor nível de interferência possível. "O resultado traduz com mais autenticidade o ambiente que está em volta", defende Lis.

Apesar das boas intenções, vinhos naturais já causaram muita polêmica. Especialistas como o autor britânico Hugh Johnson demonstram ter questões a respeito. "Seria natural uma palavra para justificar qualquer tipo de acidente?", questiona, em texto recente, sugerindo a troca de natural por "alternativo". Uma crítica é que o nome natural faria os demais vinhos parecerem artificiais.

"Às vezes, vinhos naturais podem ser óbvios demais, refermentando [nova fermentação indesejada na garrafa]. Mas estão ficando cada vez melhores", defende outra britânica, Jancis Robinson, autora e crítica, que também ajuda a escolher os vinhos da adega da rainha Elizabeth 2ª. "Existem vinhos naturais bons e ruins, como tudo na vida. Aliás, mais uma vez, a definição de bom ou ruim foi feita pelo mercado", responde Lis.

Mais um detalhe da feira deste ano (e de sua foto): além de nus, os modelos estão com as mãos atadas. É uma referência direta ao caso do produtor de vinho natural gaúcho Eduardo Zenker, da Arte da Vinha, que mantinha uma produção artesanal, apreendida no mês passado pela Secretaria da Agricultura.

Para Lis, o caso é emblemático, já que não existe legislação que enquadre, de forma satisfatória, pequenos produtores. "Ficamos de mãos amarradas. Temos mais de mil famílias fazendo vinho artesanal só em São Paulo. Mas trabalhamos com bases neolíticas", diz. E, para ela, são nessas produções garagistas, independentes, que estão "as representações mais fieis do que é o vinho".

Naturebas.R. Atílio Innocenti, 720, Vila Nova Conceição. Data: 19/8, das 13h às 19h. Entrada: R$ 120. Reservas (mediante a pagamento): naturebas2017@saintvinsaint.com.br

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ENTENDA A DIFERENÇA

Orgânico
Não utiliza fertilizantes e defensivos sintéticos no cultivo e elaboração do vinho. Tem legislação própria e selos de verificação emitidos por diferentes organizações

Biodinâmico
A produção, além de orgânica, segue um calendário lunar e administra compostos vegetais e animais num processo semelhante à homeopatia. Também tem regulamentação oficial para produção

Natural
Vinho feito com o menor nível de interferência possível. Como não são regimentadas, as práticas variam entre os produtores, mas incluem pouca ou nenhuma administração de conservantes e uso de leveduras selvagens (presentes no ambiente e nas uvas), que mantém características próprias do vinho

Fontes: "Authentic Wine" (Jamie Goodle e Sam Harrop); sommelière e professora Gabriela Monteleone

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